Os efeitos negativos da inteligência artificial e dos algoritmos, que podem influenciar o comportamento das pessoas, têm sido cada vez mais debatidos. O livro Racismo Algorítmico: Inteligência Artificial e Discriminação nas Redes Digitais (Edições Sesc), de Tarcízio Silva, colabora com a reflexão crítica.
A obra está entre os lançamentos de uma coleção sobre democracia digital. O tema é tratado de forma simples, “mas com responsabilidade”, afirma Tarcízio. Doutorando no Programa de Ciências Humanas e Sociais na Universidade Federal do ABC e pesquisador da Fundação Mozilla, o autor do livro estuda racismo algorítmico e imaginários sociotécnicos de resistência.
A realidade do Brasil, um dos países mais desiguais do mundo, conforme indica o World Inequality Lab (Laboratório das Desigualdades Mundiais), exige uma discussão minuciosa do assunto sobretudo para quem vive nas periferias. Segundo Tarcízio, os territórios e as pessoas são alvos constantes de violência e abandono do Estado por meio do qual o racismo algorítmico se vincula a práticas de hiper-vigilância.
O terror racial que Estado e polícia impõem às periferias pode ser impulsionado por uso de reconhecimento facial ou mesmo novas armas, como drones
“O terror racial que Estado e polícia impõem às periferias pode ser impulsionado por uso de reconhecimento facial ou mesmo novas armas, como drones”, diz o autor. “A marginalização econômica e política nessas regiões também abre espaço para o setor privado predatório.”
A marginalização econômica e política nessas regiões também abre espaço para o setor privado predatório
Tarcízio demonstra em seu trabalho como a coleta de dados sensíveis é usada de diversas formas, além do reconhecimento facial. Ela ocorre, por exemplo, em programas de assistência social, nas estratégias para determinar preços em aplicativos de transporte e serviços, no acesso à internet ou ainda em sistemas privados que oferecem descontos e programas de fidelidade.
Seu rosto, regra “deles”? — Implementações de reconhecimento facial na segurança pública são criticadas internacionalmente por promover a criminalização da pobreza.
No Brasil, alerta o pesquisador, a tecnologia chega a toque de caixa e com critérios frouxos. “[Fazem isso] ainda que os dados mostrem que ela é imprecisa contra minorias”, diz Tarcízio. “Até o reconhecimento facial que encontre efetivamente as pessoas suspeitas cadastradas em sua base é nocivo, sobretudo por causa das políticas desastrosas de encarceramento em massa e o policiamento racista focado em crimes sem vítimas ou na absurda proibição de substâncias como a cannabis.”
'TRISTE E COMUM EXEMPLO DE RACISMO ALGORÍTMICO' Um dos estados brasileiros a utilizar o reconhecimento facial no policiamento é o Ceará, onde a Polícia Civil mantém um catálogo fotográfico de suspeitos. Em janeiro deste ano, o sistema protagonizou um escândalo quando a foto do ator afro-americano Michael B. Jordan, astro de Pantera Negra, apareceu em uma lista de procurados pela polícia por uma chacina que deixou cinco pessoas mortas na noite de Natal de 2021. À época, a Polícia Civil emitiu uma nota em que informava que o trabalho de reconhecimento fotográfico é apenas uma das etapas que podem levar ao indiciamento de um acusado. Para Tarcízio, esse é um “triste e comum exemplo” do racismo algorítmico.
A inclusão de fotografias de inocentes, geralmente negros, em listas de procurados parte primeiro de séculos de exploração e opressão racial no País, afirma o pesquisador. “As abordagens discriminatórias do perfil considerado ‘suspeito’ por agentes na rua alimentam as bases com fotos de pessoas que sequer foram condenadas e que a partir daí podem ser enquadradas como criminosas por uma vítima descuidada ou por um policial negligente. É o racismo estrutural alimentado por dezenas e centenas de violências que se somam e destroem vidas. A algoritmização de sistemas de decisão tem o potencial de aumentar a velocidade e a escala desses processos, com o agravante de uma falsa aparência de neutralidade”, conclui.
'A TECNOLOGIA NÃO É NEUTRA' O interesse de Tarcízio Silva em pesquisar o racismo nos algoritmos não é algo novo, embora a obra sobre os danos na sociedade seja seu primeiro livro totalmente autoral. O pesquisador conta que na academia e no ativismo muitas pessoas negras têm discutido os impactos racializados da tecnologia em temas como discurso de ódio. Ele se soma ao trabalho de quem tem pavimentado pesquisas sobre o tema, entre eles Zelinda Barros, Alondra Nelson, Sil Bahia e Ivo Queiroz. “Entretanto, na maioria dos espaços hegemônicos da academia e nas instituições que definem políticas públicas, a relação entre racismo e tecnologias digitais era negada ou invisibilizada. Por exemplo, em um País marcado pelo genocídio negro, livros e pesquisas sobre práticas digitais de vigilância ignoravam o histórico escravista do país e como jovens negros são alvos da violência estatal”, relata. Para o pesquisador, ainda existe uma negação da existência do racismo associada à crença de que tecnologias são neutras. Até poucos anos atrás, diz, as tecnologias digitais pareciam afastadas das urgências dos negros: a fome, o desemprego e a violência estatal não pareciam problemas ligados a elas. “Por fim, o Brasil é apenas consumidor de grande parte das tecnologias e infraestruturas digitais que usamos no dia a dia. Sem o controle social soberano da tecnologia como acontece nos EUA ou na China, as reações de brasileiros a problemas provenientes de corporações globais enfrentam mais barreiras."
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Respeito a posição do autor, mas discordo totalmente. Em várias cidades do mundo existe o controle facial e wm países com alto índice de criminalidade ele seria um meio de controle das ocorrências e na busca dos bandidos muito mais efetiva. Milhares fugitivos da polícia andam pelas cidades sem qualquer controle. Não vejo porque transformar isso em uma luta racista
isso, nao podemos implementar tecnologias que prendem bandidos porque seria racismo. O problema do brasil é o excesso de idiotas que são alçados a grandes pensadores pela midia que tambem ama bandidos. A teoria desse sujeito nao duraria 30 segundos em um país com o mínimo de seriedade. Mas no “Brasilsão” vale até ladrão condenado ser candidato a presidência.