Imagine viver numa ilha que depende das embarcações de uma concessionária que permite atrasos e reduz a oferta viagens, causando aglomerações em plena pandemia. Esse é o drama dos moradores da Ilha de Paquetá
Reportagem de Felipe Migliani, PerifaConnection, no Rio de Janeiro
Ao fundo da Baía de Guanabara e a 18 quilômetros do centro do Rio de Janeiro, encontra-se a bela Ilha de Paquetá. O bairro tem cerca de cinco mil moradores. Para entrar e sair, eles dependem essencialmente do transporte aquaviário ofertado pela concessionária CCR Barcas. Mas o serviço ruim e os horários reduzidos têm ameaçado o ir e vir da população.
O professor de educação física Bruno Reis é um dos prejudicados. “Tinha dias que retornava no horário das 22h15. Agora, só tem dois horários à noite, que são 18h50 e 23h10. Estou saindo do trabalho às 21h e chegando em casa depois das meia-noite para no dia seguinte acordar 4h20 e pegar a barca de 5h10”, relata.
Os moradores reclamam que os atrasos são constantes e nos horários de pico as embarcações ficam lotadas. Em setembro de 2020 houve uma aglomeração de mais de 800 pessoas na estação de Paquetá. Por falta de embarcação, passageiros tiveram que dormir numa praça da ilha e só puderam embarcar no dia seguinte.
Tudo começou em dezembro de 2019, quando a CCR Barcas modificou a grade a pretexto de “melhorar a eficiência”. Houve corte de sete viagens na ida e na volta em dias úteis. Nos finais de semana, a redução foi de 25 percursos para apenas 12. A concessionária justificou, então, que as alterações eram necessárias por causa de um desequilíbrio financeiro de R$ 70 milhões por ano, desde que a concessão teve início, em 1998.
A CCR Barcas também tentou incluir uma parada em Cocotá, que aumentaria o tempo de viagem ao centro de 50 minutos para 1h40. Mas após diversas manifestações dos moradores na causa Respeita Paquetá – mais barcas e menos pandemia, a justiça do Rio rejeitou a mudança no trajeto.
Os moradores seguem mobilizados e em contato com o poder público estadual e o municipal, na busca por soluções. O diálogo se dá especificamente com a Secretaria Estadual de Transportes (Setrans) e a Secretaria Municipal de Transportes (SMTR). Guto Pires, presidente da Associação de Moradores de Paquetá (Morena), explica que a SMTR foi convocada para participar do debate sobre um novo modelo de transporte aquaviário na Baía de Guanabara. “A Setrans reconhece que o atual modelo de contrato de concessão é péssimo para o poder público, para os usuários e só beneficia a concessionária. Eles estão abertos. Pode ser para uma única empresa ou para mais de uma, fatiando e talvez tornando mais competitivo e melhor o serviço”, diz José Augusto.
A subsecretária de Mobilidade e Integração Modal do Estado, Paula Azem, confirma o diálogo com os moradores e o convite à SMTR para participar do debate, já que o trajeto Paquetá-Centro não é intermunicipal. Paula afirma que a atual grade praticada pela CCR Barcas na Linha de Paquetá foi determinada pela justiça, em janeiro de 2020. Ela também explica que todo o processo, que inclui a modelagem e a fase da licitação para o novo edital, irá durar 20 meses — sendo que os prazos de estudos para a nova modelagem e de apoio à licitação são de, respectivamente, 8 e 12 meses.
A causa Respeita Paquetá conseguiu fazer o poder público incluir a participação dos moradores na construção de um novo plano. O que se vê pela frente, porém, ainda são mais dois anos de luta e resistência. Questionada sobre aglomerações e atrasos, a CCR Barcas não retornou o contato feito pela reportagem.
Boa tarde bela publicação a respeito da dificuldade que todos os moradores da cidade de Paquetá estão enfrentando, parabéns ao reportagem jornalista Felipe Migliani