Casos amorosos, traições e afetos. Esses são alguns temas do cenário musical do brega paraense, gênero influenciado pela Jovem Guarda. O ritmo ficou conhecido, no Brasil e no mundo, por causa das festas de aparelhagens realizadas por DJs na periferia urbana de Belém e no interior do Estado. Em 2021, recebeu o título de Patrimônio Cultural e Imaterial do Estado do Pará.
Vozes marcantes como as de Wanderley Andrade e Edílson Moreno, além das bandas Sayonara e Calypso [1999-2015], popularizam o som do brega paraense no Brasil. “Foi importante para o povo paraense o reconhecimento histórico de um movimento que vai além da música produzida no Pará, passando pela dança, comportamento e a cadeia da economia criativa”, afirma Marquinhos Pará, cantor e compositor do grupo Brega Époque.
O artista lembra que em 2013 já havia sido sancionada a lei que tornava o tecnobrega Patrimônio Artístico Cultural do Pará. “A nova lei surge em meio a especulações de outros estados quanto a verdadeira origem da do brega”, diz Marquinhos. “Na minha opinião, é do Brasil. Alguns estados acabam bebendo da fonte [criativa] do outro, como o caso do Reginaldo Rossi e, na sequência, a banda Calypso e o ritmo tecnobrega.”
Influências do brega — O caldo criativo do brega paraense incorpora a influência de vários artistas — a exemplo de Eddy Max, Mauro Cotta, Juca Medalha, Frankito Lopes e Luiz Guilherme —, de DJs da periferia e da mesclagem sonora a outros ritmos e estilos, como cumbia, a guitarrada, o carimbó e o zouk.
Essa mistura faz com que o brega seja cada fez mais dançante e remixada. Variações do ritmo também nasceram. O próprio tecnobrega, conhecido também como tecnomelody, recebe as características musicalmente comerciais do pop, além de sintetizador e caixa de ritmos.
Cultura local — O ritmo também fez nascer grupos de fã-clube que animam as casas de shows e os eventos com suas coreografias. O Potentes do Brega é um exemplo. Criado há 14 anos, reúne cerca de cem integrantes da região metropolitana de Belém e até moradores de outros lugares. Eles trocam ideias e experiências e aperfeiçoam os passos com novos movimentos para mandar bem no salão. Essas pessoas participam de festas de aparelhagens e recebem convites para se apresentar em eventos particulares.
“Quando o brega começa a adentrar outros espaços para além das periferias e passa a ser ouvido e visto em rádios e TVs, não houve uma valorização, mas só a aceitação de uma novidade”, diz o educador social e um dos integrantes do Potentes, Eduardo Soares. “A cultura brega já está incorporada no dia a dia dos belenenses. Sofre influências nas letras e arranjos como os demais gêneros musicais, mas está incorporada no povo”, avalia.
Os equipamentos — Quando brega paraense se apropria de estruturas sonoras para agitar os bailes, as aparelhagens customizadas por DJs periféricos acabam virando ícones das festas. Aparelhagens são um conjunto de equipamentos (caixas de som, iluminação e etc.) e um mascote — geralmente é escolhido um animal da fauna amazônica para animar as festas de tecnobrega na grande Belém. Nos bairros mais pobres, as aparelhagens montadas são a diversão da população local.
Falta incentivo — Se por um lado o brega e as aparelhagens são motivos de orgulho e de manifestação cultural na periferia, por outro artistas e líderes comunitários apontam a falta de apoio do poder público para manter músicos e os projetos desenvolvidos pela comunidade. A ausência se intensificou nos últimos anos, com a pandemia de covid-19.
A Fundação Cultural do Pará (FCP), órgão vinculado à Secretaria de Cultura do Estado, é uma das entidades responsáveis por direcionar incentivos culturais a fim de valorizar, fomentar e subsidiar o ritmo do brega na região. Procurada pelo Expresso na Perifa para comentar as políticas públicas do setor e a queixa dos artistas, a FCP informou que em 2021 foram obtidos repasses por meio de emendas parlamentares no valor de R$ 800 mil. Sobre futuros projetos e políticas públicas, a resposta foi de que editais serão abertos. As informações não foram detalhadas.