Mulheres negras são quase metade dos 2,4 milhões de jovens de 15 a 29 anos que não estudam nem trabalham no Brasil, mas gostariam de trabalhar. O grupo demográfico mais afetado pela falta de oportunidade de trabalho e desenvolvimento educacional também representa três de cada quatro brasileiros na faixa etária que afirma que os afazeres domésticos e o cuidado de pessoas os impedem de procurar emprego ou frequentar instituições de ensino.
A pesquisa revela ainda que uma a cada sete mulheres negras entre 15 e 29 anos que não estudam nem trabalham estão abaixo da linha da extrema pobreza, pois vivem com menos de R$200,00 per capita por mês.
Mulheres brancas também apontam o trabalho não remunerado como limitador de estudo ou de participação no mercado. Elas representam um de cada cinco jovens de 15 a 29 anos que afirmam que esse é o principal motivo para não procurar emprego ou educação formal.
Esse tipo de atividade, porém, não é, nem de longe, o motivo que impede os homens jovens de trabalhar ou estudar, uma vez que afazeres domésticos e cuidado de pessoas afastam dois de cada 100 homens negros do trabalho remunerado e do estudo e um de cada 100 homens brancos.
Os dados, que correspondem a 2022, fazem parte da Síntese de Indicadores Sociais: uma análise das condições de vida da população brasileira em 2023, divulgada pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), na última quarta-feira (6). O estudo apresenta indicadores sobre estrutura econômica e mercado de trabalho; padrão de vida e distribuição de rendimentos; condições de moradia e educação.
Política do cuidado – Denise Freire, uma das analistas da pesquisa, aponta que as mulheres, principalmente pretas e pardas, são as mais impactadas pela falta de políticas do cuidado.
“Elas precisam ficar em volta do trabalho reprodutivo, cuidando de parentes e dos afazeres domésticos, sem contar com uma rede de apoio e acesso à creche e casa de repouso”
Segundo Freire, a faixa etária mais crítica, dentro da população considerada jovem, é a de 18 a 24 anos, por ser a fase de transição da escola para o trabalho.
“Elas acabam ficando fora do mercado de trabalho, não têm experiência em um primeiro emprego, não têm acesso às oportunidades e acabam tendo mais dificuldade”, completa Freire.
Segundo o IBGE, os jovens que não trabalham nem buscam trabalho, mas gostariam de trabalhar estão na Força de Trabalho Potencial, ou seja, não estão trabalhando por falta de disponibilidade.
Além dos afazeres domésticos, os jovens entrevistados elencam outros motivos para justificar a indisponibilidade para o trabalho: estavam aguardando resposta depois de buscar trabalho; não conseguiram trabalho adequado; não tinham experiência profissional ou qualificação; não conseguiram trabalho por serem considerados muito jovens; não havia trabalho na localidade; estavam estudando por conta própria; por problema de saúde ou gravidez.
Pós-pandemia é melhor para os brancos – O aquecimento do mercado de trabalho após a pandemia beneficiou mais as pessoas brancas do que as pessoas pretas ou pardas. De acordo com o IBGE, entre 2021 e 2022, houve redução de 28% de jovens brancos que não estudam e não trabalham. Entre as mulheres brancas a queda foi de 19%, entre os homens negros, 16%, e entre as mulheres negras, 13%.
Para um dos analistas da pesquisa, André Simões, a questão racial é central para entender as desigualdades sociais no país.
“Na educação, vamos ver que o acesso se dá em diferentes níveis, por cor ou raça, e que a população preta e parda têm um acesso menor. Nas questões de habitação e renda, a mesma coisa. As mulheres pretas e pardas têm uma vulnerabilidade ainda maior”, ressalta Simões.
Segundo os pesquisadores, a vulnerabilidade das mulheres negras se mantém em patamares elevados em toda a série histórica da pesquisa.