Artistas contam que a instauração do feriado trouxe conhecimento individual e contribuiu para a luta antirracista
O Dia da Consciência Negra é celebrado no Brasil em 20 de novembro, desde 2011. Foi naquele ano que a então presidenta Dilma Rousseff oficializou a comemoração. No calendário das escolas, no entanto, a data já estava presente desde a sanção da Lei 10.639, de 2003 — além de a importância da luta ser lembrada, o ensino de história e cultura afro-brasileira passou a fazer parte da grade, do ano letivo, de todo mundo.
Essa foi é conquista de jovens universitários que nos anos 1970 defendiam um dia que representasse a trajetória da população negra no Brasil.
Em uma reportagem especial, o Estadão pediu a alguns artistas que contassem em suas palavras se e como o 20 de novembro mudou suas vidas. Nesta página, você lê os depoimentos de três gerações de mulheres negras: as atrizes Zezé Motta e Ju Colombo e a cantora Iza.
Com reportagem de Gabriela Piva, O Estado de S. Paulo. Clique aqui para ler os testemunhos de outros participantes
ZEZÉ MOTTA — ATRIZ E CANTORA, 78 ANOS
“Sou do tempo que em novela tinha apenas dois ou três atores negros, que faziam sempre papéis subalternos. O problema não era fazer empregados, mas é que esses personagens vivem a reboque. Essa era a questão, não tinham uma história própria, estavam a serviço de outros personagens. Então, se a gente fizer uma comparação, vamos ver que houve avanços, mas ainda somos poucos em muitos departamentos. É um grande avanço.
Fico muito feliz que nossa luta venha se fortalecendo a cada ano que passa, sabemos que falta muito ainda. Para mim, o dia 20 de novembro, é um dia muito importante para o nosso país e sociedade, um dia de reflexão contra o racismo, mas, que essa reflexão reflita todos os dias na nossa sociedade.
O recado que deixo é que devemos lembrar sempre que somos bonitos, capazes e não somos inferiores. É nosso dever passar esses pilares e informações para as nossas crianças e reforçar que a cultura negra entre no currículo escolar porque só assim poderemos trabalhar a autoestima dos jovens e só dessa forma eles podem se orgulhar de serem negros.”
JU COLOMBO — ATRIZ, 57 ANOS
“Na minha forma de ver, todas as ações que passaram a acontecer, fruto da profunda indignação da população preta, têm alterado drasticamente as estruturas sociais que estabeleceram de forma tão cruel a segregação racial no Brasil.
Hoje somos muitos, ocupando espaços antes inacessíveis. Cada vez mais instruídos, conscientes e pró-ativos. Sendo assim, cada vez mais, essa data deixa de ser uma comemoração banalizada, para ser um momento de conscientização sobre a nossa cultura e nossas histórias, sobre as conquistas e, principalmente, sobre o que ainda precisa ser feito!”
IZA — CANTORA, 32 ANOS
“Para mim e para a minha família, eu acho que, diretamente, ligado à instauração da data, não impactou nada – no sentido da nossa evolução emocional, social e financeira. Mas, de fato, é uma data que é muito importante. Nós somos negros todos os dias do ano e, por isso, essas questões batem na nossa porta todos os dias.
É muito importante que a gente tenha um dia no ano para falarmos sobre isso nacionalmente, que seja reconhecido e que a gente tenha pessoas que possam falar sobre isso. Talvez, por eu ter 32 anos, a instauração da data não tenha feito tanta diferença na minha existência. Porém, tenho certeza que isso vai fazer diferença para as próximas gerações. (…) Na minha opinião, eu acho que a gente precisa de espaço para falar.”