Quando o café, ponte líquida, faz a ligação entre pessoas que não se conhecem? Na abertura do documentário Caffé Sospeso (Itália, EUA e Argentina, 2017), um professor fala em uma universidade de Nápoles sobre o café ser uma bebida social por meio da qual são estabelecidas relações.
“Você socializa ao compartilhar café. Se você diz a um amigo, ou a alguém que acabou de conhecer, ‘vamos tomar um café?’, não significa que sejam obrigados a tomar café. Na verdade, é um jeito de dizer ‘vamos passar tempo juntos?’
O filme, dirigido por Fulvio Iannucci e Roly Santos e escrito por Alessandro Di Nuzzo, tem como fio condutor a reflexão sobre um costume napolitano – já alimentado em outras cidades do mundo – de, na cafeteria, ao acertar a conta, deixar pago um café para outra pessoa. É uma bebida pendente para um desconhecido. É o café à espera, um café doado, uma dose de afeto.
O professor, ao comentar o gesto, diz que
“este é um exemplo típico de solidariedade a favor de um estranho. O recebedor não conhece a identidade do doador. E o doador não sabe quem vai beber o café que ele deixou pago”.
O dono de uma cafeteria em Nápoles explica que o sentido do café pendente é o de poder proporcionar, na xícara, um ânimo para alguém que muitas vezes não tem nada, não tem ninguém, vive na rua. Mais do que oferecer um euro de esmola, ele afirma, “o café é alguma coisa agradável, especialmente quando preparado da maneira correta”.
Ao falar de três personagens tão diferentes – um jovem imigrante em Nápoles, a herdeira de um fabricante de cafeteira em Nova York e um garçom argentino com vida dupla – e ligados por sua relação com o café, o documentário atribui à bebida esse status de ponte líquida, de uma dose importante de dignidade e sentido para as conversas e as relações mais profundas. Um café doado pode ajudar a mudar a vida de alguém. Não é nem retórica, nem proselitismo, nem conversinha fiada. Pense nisso da próxima vez que sentir vontade de convidar alguém para ficar mais. Passe um cafezinho.
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