Na semana do Dia da Pizza, o Paladar conta a história: no Brasil, ela foi preparada pela primeira vez em São Paulo, entre os séculos 19 e 20, trazida pelos imigrantes do sul da Itália
DIAS LOPES PARA O PALADAR
A pizza chegou ao Brasil através de São Paulo, entre os séculos 19 e 20, trazida pelos imigrantes do sul da Itália. Virou paixão nacional. Todas as informações indicam que a primeira cantina a prepará-la foi a Santa Genoveva, aberta em 1910 no bairro do Brás. Funcionava na Avenida Rangel Pestana, esquina com a Rua Monsenhor Anacleto, e pertencia ao napolitano Carmino Corvino, o Dom Carmenielo.
Ele desembarcou em São Paulo em 1897. Como outros patrícios, começou a trabalhar na capital vendendo pizza na rua, cortada em pedaços. Assava-a no forno de casa e a carregava em um tambor portátil, com carvão em brasa para não esfriar. Quando amealhou algum dinheiro, fundou a pioneira Santa Genoveva. Sua casa virou ponto de reunião dos italianos, sobretudo dos barulhentos e simpáticos napolitanos. Além de preparar a pizza em quatro variações tradicionais – mozzarella, napolitana, alice e mezzo a mezzo (alice e mozzarella) –, Don Carmenielo divertia a clientela com a potente voz de tenor.
Segundo o historiador Geraldo Sesso Júnior, no livro Retalhos da Velha São Paulo (Câmara Municipal de SP, 1983), uma das suas canções favoritas era Marecchiare, sucesso na época. Outra característica dele: socorrer os necessitados. Alto e corpulento, parecia um brutamontes. Mas, conforme Sesso Júnior, “era fonte de bondade”. Morava nos fundos da cantina com a mulher, Anunciata, também italiana do sul, e a família numerosa. Ali havia sempre um cômodo para acolher o patrício em dificuldades. Apesar de pródigo, ficou rico, mas acabou perdendo tudo. Morreu pobre.
Dizia-se que gastava demais com mulheres espertas. Sedutor incorrigível, Dom Carmenielo veio para o Brasil fugindo da ameaça de morte do marido de uma napolitana com a qual se envolveu. Na viagem de navio conheceu Anunciata, companheira pelo resto da vida. As infidelidades do marido provocavam ciúmes na mulher. Mas entre Dom Carmenielo e Anunciata os conflitos terminavam em pizza. Tiveram oito filhos. A Santa Genoveva fechou há muitos anos.
A propósito: a expressão “terminar em pizza”, para escândalos sem punição, também teria surgido em São Paulo, na escrita de um cronista esportivo palmeirense. Na década de 1960, dirigentes do time digladiavam-se em batalha verbal. Movidos pelo estômago, foram juntos matar a fome na Cantina e Pizzaria Genovese. No dia seguinte, a manchete de Milton Peruzzi, em A Gazeta Esportiva, era: “Crise do Palmeiras terminou em pizza”.
Texto publicado originalmente em 30 de setembro de 2010, na coluna “O melhor de tudo”. Foram mantidas as grafias em italiano utilizadas pelo autor
* Roteiro publicado originalmente no Guia Melhores Pratos de São Paulo 2017/2018, do 'Paladar'. Preços checados em julho de 2019
A melhor da Itália
ROBERTA GONÇALVEZ ESPECIAL PARA O ESTADO
A pequena Caiazzo, na região da Campania, no sul da Itália, tem cinco mil habitantes e convive com uma multidão de turistas que se aglomeram diariamente em suas estreitas ruelas. A culpa é de Franco Pepe, dono do restaurante Pepe in Grani. Atualmente, esta é a “melhor pizzaria da Itália”.
Organizada pelo “50 Top Pizza”, um guia online para pizzarias da Itália, a seleção é feita por cem críticos gastronômicos anônimos, que visitam cerca de mil pizzarias. As mais pedidas são Margherita Sbagliata, versão invertida da tradicional, com o queijo embaixo e o molho frio em cima (foto); e Sensazione di Costiera, pizza frita com alho desidratado, anchovas e casca de limão.
Elas são individuais e custam, em média, 8 euros. A Pepe in Grani produz cerca de 700 pizzas por noite. O pizzaiolo se mantém fiel às tradições da família, que faz pizzas desde 1930. Ele diz que o público mudou: “As pessoas não procuram mais um restaurante apenas para matar a fome. Querem curtir o espaço, saborear cada prato”, diz. O pizzaiolo acaba de ser condecorado como Cavaleiro de Ordem do Mérito da República Italiana.
Pepe in Grani Pizzeria Vicolo S. Giovanni Battista, 3, Caiazzo, Caserta, Campania, Itália www.pepeingrani.it
Paladar é sempre um prazer ler.Muito informativo e me orienta na escolha dos melhores lugares para comer bem.
Pena que muitos restaurantes e pizzarias estão encerrando atividades por conta dessa crise interminável de nossa economia… josegianni@gmail.com
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josegianni@gmail.com