21 abril 2023 em Cultura

Slam do Helipa promove competição entre poetas em atmosfera de rinha de MC 

Em 2018, Paulo Cesar Marciano criou, com apoio de uma instituição cultural, a Editora Gráfica Heliópolis, um projeto para facilitar a publicação de autores da maior favela de São Paulo, situada na zona sul. Mas não bastava só publicar. Era preciso fomentar a literatura para despertar novos talentos e surgiu, no ano seguinte, o Slam do Helipa, um campeonato de poesia. 

“O slam mistura o clima do sarau, de ter pessoas recitando, e a rinha de MC, aquela competição sangue no olho”, diz Paulo, mais conhecido como PC Marciano na comunidade onde nasceu. A manifestação literária começou nos Estados Unidos nos anos 1980 e chegou a São Paulo por volta de 2008.  

Em Heliópolis, a iniciativa ocorre no último sábado de cada mês nos mais diversos espaços do território, como quadras, ONGs e escolas. São abertas 20 vagas por edição: dez para homens e dez para mulheres. As inscrições para a competição, realizadas no dia do evento, não são restritas a pessoas da comunidade. 

Uma edição costuma ter três baterias (rodadas) e uma média de uma hora e meia de duração. Em cada uma, os poetas são avaliados, classificados e eliminados. O vencedor se classifica para a batalha de agosto que definirá o representante do Helipa no campeonato estadual.  

Cada poeta deve recitar um poema da própria autoria em até três minutos, sem uso de adereço ou música. Da plateia, cinco jurados, geralmente lideranças ou professores da comunidade, pontuam as apresentações de 0 a 10. Para cálculo da nota geral, são descartadas a menor e a maior nota, que são utilizadas apenas em situação de empate. 

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Antes das apresentações, o MC, uma espécie de mestre de cerimônias, estimula o público a entoar o grito de energia ao poeta da vez, uma adaptação da música Baile de Favela, do MC João: 

 

“Slam do Helipa, 

encontro de poeta/

Slam do Helipa, 

a favela se completa/ 

Pow!”

 

Segundo o organizador PC Marciano, os temas que aparecem com frequência no Slam do Helipa dialogam com a vida do artista. “O slam não tem uma temática, mas acabou tendo uma característica de protesto, de falar das dores (das pessoas que se apresentam)”, diz. 

“Os poetas têm cisma de falar de amor porque as notas caem”, acrescenta Marciano. O assunto não tem apelo e, por isso, as notas costumam sair do patamar dos 9 e 10.  “Tento sair dessa caixa”, diz Alberto Ferreira, de 22 anos.  Além de escrever sobre aspectos sociais, como o racismo, ele também leva para o slam os seus versos românticos e de reflexões cotidianas e existenciais. No Helipa, ele conta que se descobriu poeta. 

Livro  

O que Karoline Oliveira, de 27 anos, escrevia nos cadernos e diários desde os 13 ia muito além de registros, eram poesias. Ela só descobriu isso quando conheceu o Slam e passou a se apresentar em Heliópolis, onde mora há 26 anos. “O slam é o lugar de escorrer aquilo que o mundo enche”, diz. É lá que ela fala das dores, dos amores e preconceitos do que vê e sente como “mulher negra, periférica e nordestina”. 

No ano passado, ela reuniu a produção poética em um livro, lançado pela Editora Gráfica Heliópolis. Vencedora da edição de março do Slam do Helipa, a educadora ambiental e estudante de geociências se prepara para a edição que definirá o representante do Helipa no campeonato estadual, em agosto. 

 

PRÓXIMO SLAM DO HELIPA

Quando: 29/4, às 18h
Onde: praça Altemar Dutra – Heliópolis (debaixo do viaduto da estrada das Lágrimas)
Como acompanhar: @slamdohelipa (perfil no Instagram) 

 

Abel Serafim