3 junho 2023 em Cultura

Obras de Ione Saldanha e Etel Adnan dialogam com a arquitetura de Paulo Mendes da Rocha

Quase na esquina entre as ruas D. Elisa e Dr. Carlos Norberto de Souza Aranha, no Alto de Pinheiros, está o último projeto residencial do arquiteto Paulo Mendes da Rocha: a casa Gerassi, nome dado em homenagem à família que encomendou o projeto. A construção foi concluída em 1990 e, pela primeira vez, está aberta a visitação pública com a mostra “Ione Saldanha & Etel Adnan”, promovida pela galeria Simões de Assis.

“Procurávamos por um espaço que conversasse com a geometria e a capacidade síntese rigorosa das artistas”, explica Julia Lima, diretora institucional da Simões de Assis, ao Expresso Bairros. “Pesquisamos por casas projetadas por arquitetos modernos, que trabalhassem com linhas retas, integrassem o espaço interno com a natureza do entorno e privilegiassem a luz natural.”

A casa Gerassi reunia todos os pré-requisitos. Começando pelo piso: um ladrilho hidráulico, projetado por Mendes da Rocha, cujo desenho geométrico lembra uma flor ou uma estrela. O sistema de construção com peças pré-fabricadas, utilizado pelo arquiteto, enfatiza a geometria da arquitetura, destacando as linhas formadas pelo encontro das placas de concreto armado.

A luz natural reina em abundância na casa rodeada de generosas janelas que permitem a integração com a copa das árvores. Há ainda uma claraboia no centro da sala para trazer mais luminosidade ao cômodo. Quem visitar a casa, no entanto, sentirá que o vão, no teto, foi construído sob medida para receber as pinturas feitas em bambus por Saldanha.

Arte & arquitetura

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A exposição começa pelos quartos, onde estão as telas da gaúcha Ione Saldanha (1919–2001) realizadas na década de 1950. Estes trabalhos mostram a relação íntima da artista com a arquitetura, que explorava imagens de casarios históricos e de elementos arquitetônicos em um exercício de geometrização da paisagem urbana.

Além de pinturas abstratas, na sala, estão os trabalhos em que Saldanha se aplicou no estudo da cor e na exploração de outros suportes, como bambus e bobinas de fios elétricos. É neste local, que privilegia o encontro, onde o trabalho da artista brasileira conversa com o da libanesa Etel Adnan (1925–2021).

Nascida em Beirute, no Líbano, Adnan morou em Paris antes de passar um período na Califórnia — onde iniciou sua produção artística. A mostra apresenta alguns trabalhos nos quais a artista explora blocos de cor a partir da simplificação da paisagem do Monte Tamalpais, que era visível da janela de sua casa.

As obras das duas artistas se aproximam pelo interesse de explorar a natureza, seja como suporte (Saldanha em seus bambus) ou como assunto (a paisagem da janela de Adnan), pela paleta cromática e pelo estudo da cor em formas simplificadas. Contrastam-se, porém, na densidade da matéria. Dominando a técnica do afresco, Saldanha usava as cores trabalhando transparências, enquanto Adnan preferiu tinta mais densa criando blocos maciços de amarelo, rosa, verde e azul.

A casa de Mendes da Rocha, que pode ser considerado o terceiro artista da exposição, potencializa o encontro das obras de Saldanha e Adnan sintetizando, no espaço, os conceitos explorados nas obras apresentadas.

O curador Luiz Camillo Osório destaca que o diálogo entre forma construída e entorno natural era muito caro às duas artistas, que cresceram e viveram perto do mar, das montanhas e da luz natural. “Quiçá seja a procura pelas variadas formas de deixar a luz penetrar no espaço, seja pictórico, seja arquitetônico, o que reúne esta casa e estas obras”, comenta. A exposição e a casa ficam abertas à visitação até 23 de julho.

 

Serviço

 

Casa Gerassi: Rua Dr. Carlos Norberto de Souza Aranha, 409,  Alto de Pinheiros
Ter./sex.: 10h /19h; sáb. 10h/18h.
Visitação mediante agendamento prévio no site: simoesdeassis.com/.
Grátis.

 

Karina Sérgio Gomes