Obras reduziram enchentes, dizem moradores do Jd. Brasil
A casa e ateliê da costureira Vera Lúcia de Oliveira, de 77 anos, enfrentou durante décadas os alagamentos do córrego Paciência protegida apenas por uma comporta de metal que, nas tempestades mais severas, nem sempre impediu a água da chuva de entrar na sala. Ela mora há quase cinco décadas no Jardim Brasil, na zona norte da Capital, e agora tem fortes esperanças no fim dos alagamentos – e que a barreira no portão possa perder a utilidade.
Quando Vera se mudou para o bairro, na década de 1970, o córrego Paciência era um estreito fio d’água sobre o qual moradores conseguiam saltar sem molhar os pés. O bairro cresceu, o asfalto e o concreto cobriram os terrenos e as tubulações passaram a direcionar o esgoto para o córrego, fazendo com que o Paciência se tornasse a cada ano mais caudaloso durante as cheias.
Vera e os vizinhos colecionam histórias de móveis, carros, mercadorias e eletrodomésticos estragados durante a temporada de chuvas. No imóvel de dois andares, que fica bem em frente ao córrego, ela aprendeu a guardar os objetos de valor nos quartos do andar de cima. Mesmo após tantas décadas vivendo na casa, porém, ela ainda tem medo de que a estrutura venha a ceder.
“Quando chovia forte eu ficava em qualquer lugar, menos dentro de casa. A gente não tinha muita confiança (na estrutura)”, conta a costureira.
No último ano, porém, as chuvas mais fortes não causaram grandes alagamentos. O trecho do córrego em frente à casa de Vera passou por uma obra de canalização e drenagem. A poucos quarteirões dali, foi inaugurado um reservatório com capacidade equivalente a 42 piscinas olímpicas, entregue em dezembro do ano passado. Parte do curso d’água passou por limpeza. “Ainda não veio uma chuva tão forte, mas por enquanto não encheu e a gente espera muito que não alague de novo”, diz.
A percepção de que os alagamentos deram trégua a partir deste ano é compartilhada por outros moradores do bairro. Na Rua Bassi, a poucos metros do leito do córrego e do piscinão, era comum que parte do asfalto já ficasse debaixo d’água nos temporais de outubro a dezembro.
“Eu moro aqui desde criança e foi a primeira vez que essa rua não alagou”, diz a comerciante Ana Paula Felipe Duarte, de 34 anos.
As obras do reservatório, que custou R$ 53 milhões, começaram em agosto de 2019 e levaram mais de dois anos para serem concluídas. Quando chove muito, seis bombas hidráulicas ajudam a levar água até o piscinão a uma capacidade de 500 litros por segundo. Parte da canalização do córrego Paciência ainda está em andamento. A previsão é que o canal chegue até a Rodovia Fernão Dias.