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davi jesus

Artista vizinho do “Velho Chico” expõe na Vila Leopoldina

Ao cair da noite, nas margens do rio São Francisco, surgem os muruins. “Os muruins são uns mosquitinhos pequenos que irritam, mas não tem o que fazer. Se você for ver o pôr do sol na beira do rio, ele estará ali com você”, explica o artista davi jesus do nascimento (cujo nome gosta de escrever em letras minúsculas).

Atento ao som das palavras e tudo que acontece nas margens do Velho Chico, davi batizou sua primeira exposição individual em São Paulo com o título “Na boca da noite, os muruins”, em cartaz no Instituto Çarê, na Vila Leopoldina, até 24 de junho.

davi é como os muruins: uma presença delicada, mas impossível de passar imperceptível. O jovem, de 26 anos, também vive à beira do rio São Francisco. Nasceu e mora em Pirapora, cidade ribeirinha no norte de Minas Gerais. As referências geográficas são importantes para situar e entender o trabalho de davi. Após morar cinco anos em Belo Horizonte, o artista voltou para sua cidade natal e compreendeu que estar ali era fundamental para sua produção.

“Viver a experiência do dia a dia de estar no meu território faz com que o meu trabalho se torne mais verdadeiro. Porque eu não estou aqui passando uns dias, eu vivo aqui”, afirma.

As primeiras referências artísticas de davi vêm de seu círculo próximo: o primo Jorge, escultor carrancas, e o pai,  marceneiro, de quem herdou o nome Davi Jesus Nascimento.

Na atual mostra em cartaz, o artista apresenta todo esse universo familiar não apenas de sangue, mas de afeto. Começando pela cor marrom das paredes do espaço expositivo, pintada com tinta colorida com pigmentos vindos da terra, o tom está presente na maioria das obras: no sépia das fotografias de família, na madeira e no tamarindo usados nas instalações, nos desenhos e nas aquarelas.

Na série “gritos de alerta”, que abre a exposição, davi explora outra imagem muito presente em seu trabalho, a carranca. A partir do símbolo visto nas proas das embarcações que navegam no rio São Francisco, o artista cria um hieróglifo próprio. Com palavras em português, o artista mostra-se um guardião da oralidade de Pirapora. “Minha escrita é baseada na experiência de conversa cotidiana que tenho com a minha família. Costumo dizer que falo o dialeto barranqueiro”, ressalta.

Preservar, observar e ressignificar são verbos-chave para compreender a obra de davi, que trabalha como um arqueólogo de suas origens, recolhendo fotografias e vestígios de sua família e de sua cidade.

Em uma das salas, uma foto de sua mãe, Eliane Vieira do Nascimento, está fixada na parede com pregos grossos de uma antiga embarcação — o artista guardou esses pregos durante muito tempo até decidir como usá-los. Em um antigo galão de combustível de barco, fez uma instalação sonora com um áudio de sua bisavó paterna, Francisca Reis, que viveu até os 104 anos.

O jovem não traz só suas raízes para o eixo comercial Rio-São Paulo, mas faz questão de que galeristas, colecionadores e curadores que queiram conhecer a sua produção viajem até Pirapora, que está a 350 km de Belo Horizonte. “É do curso do trabalho. Acho bom ver as coisas saírem daqui de um jeito cuidadoso, afinal, é daqui que tudo nasce”, conclui.

De margem a margem

Assim como davi vive às margens de um rio, o Instituto Çarê, onde a exposição está em cartaz, fica também às margens — à margem do circuito de arte da zona oeste paulistana, centralizado em Pinheiros, Vila Madalena e Jardins, e próximo das margens do rio Pinheiros. “Aqui, na vila Leopoldina, não temos aparelhos culturais parecidos com o Çarê”, afirma Fabrício Lopez, diretor na instituição.

O Çarê foi inaugurado em 2019 com intuito de promover projetos que envolvam artes, música, educação e pesquisa. O espaço funciona como braço cultural do Instituto Acaia, uma escola experimental que atende em sua maioria crianças e adolescentes das favelas do Nove, da Linha e do Conjunto Habitacional Cingapura Madeirite, próximas à Ceagesp, em São Paulo.

Desde sua abertura, o instituto já promoveu duas exposições, a primeira  “Axs Nossxs Filhxs”, da artista plástica LIA D Castro, em 2019, e uma individual do artista americano Fred Sandback (1943–2003), em 2022. A ideia é montar pelo menos duas exposições ao ano, uma em cada semestre. “Na boca da noite, os muruins” abre o ano expositivo de 2023 do Çarê.

“Fizemos uma primeira exposição internacional, que foi muito bonita, mas estava deslocada do que é o centro de gravidade do instituto. Aí, vem o davi com quem acertamos no alvo. Um artista jovem brasileiro com uma linguagem contemporânea e universal, mas que fala e trabalha a partir de um centro regional”, explica Lopes.

Além da exposição em cartaz até 24 de junho, nos próximos dois meses o Çarê traz, em sua programação, atividades gratuitas que envolvem música, literatura e cinema. Confira:

  • 19 de maio: show Jean Garfunkel duo — O Sertão na Canção.
  • 20 de maio: rodas de leitura de Guimarães Rosa com Cecília Marks e o ator Odilon Esteves.
  • 2 de junho: show com Pedro Surubim, Priscila Magela, Anabel Andrés e Bicho Carranca.
  • 3 de junho: sessão de cinema comentado com o coletivo Cine Barranco.

 

Serviço

Instituto Çarê: R. Dr. Avelino Chaves, 138, Vila Leopoldina.
Ter./sáb.: 13h/18h.
Instagram: @institutoculturalcare. Grátis.

 

Karina Sérgio Gomes

 

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