Sim, os mais jovens transmitem a doença e a preocupação com a volta as aulas é legítima. Será que é hora de voltar? Vale o risco? Muito se discute sobre retomar a escola presencial e o que se sabe (ou não) a respeito do coronavírus na infância e na adolescência. Veja o que a ciência tem dito
AS CRIANÇAS TRANSMITEM CORONAVÍRUS?
Sim. “Crianças podem transmitir o vírus, mas há diferenças na taxa de transmissão a depender da idade, com os menores transmitindo menos”, disse durante coletiva de imprensa a líder técnica da resposta à pandemia da Organização Mundial da Saúde (OMS), Maria Van Kerkhove. Segundo Maria, estudos preliminares mostram que crianças pequenas transmitem menos covid-19 em relação aos adolescentes.
Por outro lado, um estudo da Escola Médica da Universidade Harvard publicado no dia 19 de agosto na revista Journal of Pediatrics diz que as crianças têm alta carga viral do novo coronavírus e podem ser mais contagiosas do que adultos, inclusive aqueles internados em unidades de terapia intensiva (UTI). De acordo com a pesquisa, o potencial de disseminação do vírus entre os mais jovens tem sido subestimado desde o início da pandemia e as crianças infectadas têm um nível significativamente mais alto de vírus nas vias aéreas – esta parte do corpo é um dos principais vetores transmissão – do que os adultos hospitalizados em UTI. Os altos níveis virais foram encontrados em bebês e adultos jovens, embora a maioria dos participantes tivesse entre 11 e 17 anos.
“Não temos certeza se as escolas vão cumprir os protocolos mínimos. É difícil evitar o contato entre as crianças. Por fim, como elas podem ser transmissoras assintomáticas, existe um risco maior. É uma desestabilização do afastamento social que estamos enfrentando há tanto tempo”
Silvia Colello, professora da pós-graduação da faculdade de educação da USP
É SEGURO MANDAR AS CRIANÇAS PARA A ESCOLA?
Três fatores preocupam a educadora Silvia Colello. “Não temos certeza se as escolas vão cumprir os protocolos mínimos. É difícil evitar o contato entre as crianças. Por fim, como elas podem ser transmissoras assintomáticas, existe um risco maior. É uma desestabilização do afastamento social que estamos enfrentando há tanto tempo”, diz a professora da pós-graduação da faculdade de educação da USP. “Em que pese o prejuízo e o dano de manter a escola fechada, eu acho que temos de continuar buscando alternativas no ensino remoto para não colocar as pessoas em risco”, completa a educadora.
Na avaliação da OMS, no processo de reabertura de escolas o mais importante a ser considerado é o nível da transmissão comunitária do novo coronavírus no lugar em que a instituição se localiza. Ele deve estar controlado. Se não estiver, esses ambientes podem piorar a disseminação da doença.
“Em que pese o prejuízo e o dano de manter a escola fechada, temos de continuar buscando alternativas no ensino remoto para não colocar as pessoas em risco”
Silvia Colello, professora da pós-graduação da faculdade de educação da USP
AS CRIANÇAS DESENVOLVEM A FORMA MAIS GRAVE DA DOENÇA?
Embora haja registros de mortes e infecções grave entre crianças, a maioria deste grupo que é infectada com o novo coronavírus apresenta as formas leve ou assintomática da doença. Essa particularidade dificulta as pesquisas, de acordo a líder técnica da OMS, Maria Van Kerkhove.
O QUE É A SÍNDROME INFLAMATÓRIA MULTISSISTÊMICA PEDIÁTRICA?
É uma doença grave que pode estar relacionada à covid-19 e desenvolver-se várias semanas após a infecção. Seria uma reação tardia. A condição pode afetar crianças e adolescentes de 0 a 19 anos, mas há Estados brasileiros que monitoram pacientes de até 21 anos. Por enquanto, pouco se sabe sobre esse quadro clínico, que apresenta diversos sintomas, atinge vários órgãos do corpo e, se não tratado correta e precocemente, pode matar.
Para saber mais sobre a doença, leia a entrevista completa com os médicos Aurélio Sáfadi, presidente do Departamento de Infectologia da Sociedade Brasileira de Pediatria (SBP), e Saulo Duarte Passos, professor titular de pediatria da Faculdade de Medicina de Jundiaí.
MEU FILHO PEQUENO COSTUMA ENCONTRAR OS AVÓS. SE ELE TIVER O VÍRUS, HÁ CHANCE DE TRANSMITIR PARA OS ADULTOS?
Sim. A recomendação é, enquanto não houver vacina, respeitar o distanciamento físico. Adultos podem infectar crianças e crianças podem infectar adultos.
MINHA FILHA TEM 4 ANOS E NÃO SE ADAPTA AO USO DE MÁSCARA.
A OMS divulgou, em agosto, recomendações para o uso da máscara por crianças:
- Menores de cinco anos não devem usar máscaras por, em geral, não terem capacidade de utilização apropriada.
- Maiores de 12 anos devem usar nas mesmas condições que os adultos, principalmente onde não for possível manter o distanciamento físico de um metro entre outras pessoas e em locais de transmissão generalizada.
- A utilização por crianças de seis a 11 anos depende de uma série de fatores, como capacidade de uso de forma apropriada e nível da transmissão na área onde vive.
- Crianças com distúrbios do desenvolvimento ou deficiência devem ser avaliadas caso a caso, “pelos pais, tutores, educadores e/ou médicos”.
- Crianças com deficiências cognitivas ou respiratórias graves com dificuldade em tolerar uma máscara não devem ser obrigadas a usar.
- Crianças com comorbidades, como câncer ou fibrose cística, devem usar uma máscara cirúrgica de proteção, não de tecido.
Com reportagem de Mílibi Arruda e Ludimila Honorato, O Estado de S.Paulo