“Não é fácil, mas não é impossível. Precisa ter muita força de vontade, fé e foco.” Assim, Maria Carolina Cassoni de Almeida Prado, de 48 anos, resume como enfrenta o tratamento do câncer de mama. A notícia, recebida em junho de 2018, chegou depois de outros dois diagnósticos da doença na família: o marido dela – de quem
é cuidadora – trata um tumor no rim há 10 anos. A mãe teve câncer de mama há três. “Meu médico não descarta
o fator emocional sobre a doença. Nesses últimos tempos, fiquei correndo atrás de um e de outro. Acho que a tristeza e a preocupação têm um peso importante no meu diagnóstico.”
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A saúde dos cuidadores pode ser afetada pelas exigências que a tarefa impõe. A pesquisa Embracing Carers entrevistou 3.516 cuidadores não remunerados e não profissionalizados com idade entre 18 e 75 anos e
comprovou o impacto. Entre os resultados, conclui que 47% dos participantes têm sentimentos
de depressão e 57% sentem que precisam de cuidados ou apoio médico para uma doença mental,
como depressão, ansiedade ou estresse. Mais da metade (55%) sente que sua saúde ficou debilitada por causa da atuação como cuidador e 54% declararam não ter tempo para suas consultas médicas.
No caso de Maria Carolina, foram anos de desgaste físico e emocional como cuidadora de um paciente oncológico. Mas foi justamente o fato de conviver com o câncer do marido que ajudou a diagnosticar a sua doença precocemente. Ao fazer o autoexame, sentiu um caroço e foi a vários médicos até receber
a confirmação do câncer de mama. “Descobri por insistência. Depois do câncer da minha mãe, passava por exames a cada seis meses. Muitas mulheres não se cuidam porque não têm o problema dentro de casa. Por tudo
que vivenciei, temo muito.”
‘A GENTE É FELIZ’
Nos 10 anos de tratamento do marido, já foram muitos altos e baixos, sustos e recuperações. A principal lição aprendida, segundo Maria Carolina, é a força de vontade de querer viver. Diariamente, ela faz uma hora de ginástica e tenta se alimentar bem. “Não fiquei na cama nenhum dia. Se sinto dores no corpo, vou para a esteira e tudo some. Apesar dos pesares, a vida vale a pena e a gente é feliz.”
Ida Soares dos Santos, de 85 anos, se apegou à fé e ao otimismo para cuidar da neta Michele, de 27 anos, que teve câncer de mama. Ida deixou a casa e o marido no Rio de Janeiro, onde vive, e se mudou para São Paulo por
um ano. Ela sabia que o ambiente da casa da paciente tinha de ser uma fortaleza, assim como ela, que não poderia ter dúvidas de que a neta ficaria curada. “Pedi a Deus forças para não chorar na frente dela. E não chorei. Não se pode pensar negativamente, porque a ciência está muito avançada. Temos que ter fé a vida toda.”
Para permanecer forte, Ida não abandonou o próprio cuidado e manteve a rotina de alimentação equilibrada. E encontrava na cozinha uma maneira de, também, cuidar da neta. “Eu fazia os pratos de que ela gosta. Isso tudo é amor. O amor transforma.” O grande desafio, acredita, era ver a neta sofrendo e pouco poder fazer. Apesar de triste pela doença, sentiu-se feliz pela oportunidade de ajudar. “Não é toda avó que pode cuidar de uma neta. Senti que Deus me deixou até a data de hoje para cuidar dela.”
NÃO ABANDONE QUEM VOCÊ É
O oncologista clínico Thiago Jorge, colaborador do Instituto Vencer o Câncer, explica que a dificuldade de dividir as tarefas com outros parentes, pedir ajuda e recorrer a profissionais é um dos motivos de desgaste. “É também uma questão cultural. Em outros países é mais comum contratar serviço de enfermagem, por exemplo.”
Segundo Jorge, doenças crônicas como o câncer geram impacto significativo sobre quem está ao lado do paciente, principalmente se este perde independência. É comum ver familiares que abandonam o trabalho, deixam de fazer suas atividades e renunciam aos cuidados com a própria saúde e à prevenção de doenças.
Alterações cardiovasculares e de diabetes são comuns, porque muitos param de fazer atividade física e não se alimentam direito. Para que cuidadores não virem também pacientes, Thiago Jorge lista algumas orientações:
• Cuidar de si mesmo é também uma forma de cuidar do paciente;
• Não esqueça que, por ser o pilar do paciente, é preciso
manter-se forte;
• Tente dividir as tarefas, não assuma tudo para si;
• Se possível, busque a ajuda de cuidadores especializados;
• Procure também ajuda psicológica e faça parte de um bom grupo de apoio a cuidadores;
• Quanto melhor você estiver, maior harmonia haverá em casa e na família e haverá reflexo no bem-estar do paciente.
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