Dicas para envelhecer melhor vão além da atividade física e intelectual e incluem o círculo afetivo: amigos, familiares e bichinhos de estimação
VELHICE | Tempo a favor
O dia a dia do envelhecimento não é fácil. Mas, se organizar direitinho, dá para viver melhor. Como fazer da velhice um tempo a favor? O Expresso extraiu ideias e informações de uma série de reportagens do Estadão. É acompanhar, refletir e executar o que tem a ver com cada um.
Segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), o Brasil tem mais de 29 milhões de pessoas acima de 60 anos. A expectativa é que, até 2060, essa faixa etária reúna 73 milhões de brasileiros
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ENVELHECER COM PROPÓSITO
Com o envelhecimento, o cérebro humano aumenta sua capacidade de solucionar problemas e atinge maior estabilidade emocional. Para a professora da Faculdade de Psicologia da PUC-SP Ruth Lopes, ignorar essas habilidades é um desperdício material. “O corpo perde agilidade, mas há otimização do raciocínio. Essa potencialidade não encontrar locais de expressão é uma estupidez, ainda mais se pensarmos num país com tantas carências, como o nosso.” Uma opção eficaz, defende a professora, é aproximar a experiência grisalha da sociedade civil organizada e da vida pública. Assim, o idoso é visto como sujeito, uma peça que permanece útil para a comunidade. “Ele pode assessorar ou prestar serviços públicos, por exemplo. Em muitos casos, a pessoa mais velha tem tempo e está disposta a isso.”
CAMINHAR SEMPRE
Caminhar regularmente ajuda a preservar o cérebro, a combater a demência e a viver melhor: um estudo em Pittsburgh, em que 300 pessoas saudáveis registraram hábitos de caminhada, descobriu que quem caminhava em torno de dez quilômetros por semana tinha metade do risco de sofrer de problemas de memória que os demais – o encolhimento cerebral ligado à idade mostrou-se menor que o de pessoas que andavam menos. Os voluntários foram acompanhados durante 13 anos. “O cérebro encolhe na fase mais avançada da idade adulta, o que pode causar problemas de memória. Nossos resultados encorajam a realização de testes para verificar se exercício físico em pessoas mais velhas são uma abordagem promissora contra demência e Alzheimer”, diz Kirk Erickson, da Universidade de Pittsburgh. O trabalho aparece na revista Neurology.
VOVÓS E VOVÔS ‘MODERNOS’
Na velhice, muita gente foge dos estereótipos e, além de curtir os netos, se dedica a exercícios e atividades intelectuais, como a escrita. Quando não está na academia, malhando três vezes por semana com a mulher em um grupo de idosos, o aposentado Edson Cavaletti toma uma cervejinha e vende moedas antigas pela internet. Todo domingo, almoça com os três filhos e três netos. Às vezes, durante a semana, algum neto faz uma visita. Além da função de avô ele é, sobretudo, um homem ativo: ocupa o tempo livre com atividades físicas e prazerosas. Já o exercício cotidiano da promotora de justiça aposentada Ana Martha Smith é brincar de pega-pega e jogar futebol com os três netos e fazer caminhadas duas vezes ao dia, quando passeia com os cachorros. Ana Martha também é ativa intelectualmente: ama ler e escrever. Há quatro anos, dedica-se a produzir “histórias da vovó”. Elabora, inclusive, textos sobre ética em linguagem acessível para crianças. Quer deixar a obra como legado aos netos. “Comecei a escrever porque, sempre que dormem na minha casa, eles pedem que eu conte uma historinha. Então, escrevo meus textos para deixar um ensinamento. O que aprendemos temos de repassar aos netos. Me ocupo dessa forma.” Além de escrever para os netos, Ana Martha passeia e vai para a cozinha com eles. O resultado são tortas e bolos a muitas mãos.
MUITO ALÉM DA ATIVIDADE FÍSICA
A canadense Louisse Plouffe, pesquisadora e participante do programa Cidades Amigas do Idoso da Organização Mundial da Saúde, vive de acordo com as próprias diretrizes. Ela já se aposentou, mas continua trabalhando na defesa dos assuntos ligados à velhice. Para Louisse, o envelhecimento saudável passa por atos como cultivar a mente, lidar com as mudanças na sociedade e abraçar desafios intelectuais. “Preparar-se para envelhecer não é fazer lifting no rosto ou praticar mais ginástica na academia.” Clique aqui para conhecer outras análises da pesquisadora – que já trabalhou com iniciativas para a longevidade no Brasil.