O diagnóstico precoce do câncer de próstata eleva as chances de cura para até 90%. O check-up regular é o melhor caminho para se proteger
De acordo com o Instituto Nacional de Câncer (Inca), o câncer de próstata é o segundo tipo mais comum entre homens no Brasil. Ele está atrás apenas do câncer de pele não-melanoma. A conscientização sobre essa e outras doenças da próstata tem de ser redobrada.
O QUE É O CÂNCER DE PRÓSTATA?
É uma doença na qual as células cancerígenas se desenvolvem na próstata — glândula masculina do tamanho de uma noz que, localizada ao redor da uretra, gera um fluido que faz parte do sêmen. O câncer ocorre quando as células se dividem irregular e incontrolavelmente. Como as novas células não são necessárias, é formada uma massa de tecido chamada neoplasia ou tumor.
TODOS OS TUMORES SÃO IGUAIS?
Alguns dos tumores de próstata podem crescer de forma rápida, espalhando-se para outros órgãos e podendo levar à morte. A maioria, no entanto, se desenvolve lentamente e leva por volta de 15 anos para atingir um centímetro cúbico. Ainda que 80% dos casos sejam de fato lentos, cerca de 15% a 20% das pessoas têm um câncer mais agressivo que pode levar de 3 a 5 anos para chegar a um estágio avançado. Isso aumenta a importância dos exames regulares.
No câncer de próstata, 20% dos casos são diagnosticados tardiamente e 25% dos pacientes morrem da doença. Na detecção precoce, as chances de cura chegam a 90%. Os dados são da Sociedade Brasileira de Urologia (SBU)
COMO É A PREVENÇÃO?
Por mais que as causas do surgimento do câncer de próstata sejam um tanto nebulosas, duas boas dicas são: alimentação balanceada e exercícios físicos regulares. É fundamental ter um comportamento que favoreça o diagnóstico precoce: cerca de 90% dos homens afetados não sabem que têm a doença até que chegue a um estágio avançado. A principal recomendação é, a partir dos 50 anos, fazer exames de toque retal e de sangue de antígeno prostático específico (PSA, na sigla em inglês) para detectar a presença do tumor. Esse acompanhamento deve começar ainda mais cedo se os pacientes são negros e/ou se tiveram casos de câncer de próstata em parentes próximos, como pai ou irmãos.
POR QUE FAZER O TOQUE RETAL?
Ainda que o teste de PSA, o exame de sangue, seja útil para rastrear a doença, o câncer de próstata está presente em 15% dos homens com níveis normais do antígeno. Para ter a análise completa do caso, é importante fazer o toque retal e a biópsia da próstata.
COMO É O TRATAMENTO?
A partir da detecção, são feitos testes (para ver se o câncer se espalhou, quanto e como) e consultas ao oncologista – nem todas as pessoas fazem cirurgia, por exemplo. Caso a caso. E mais: os tratamentos podem ser combinados. Exemplos, entre outras associações possíveis: cirurgia e radioterapia; ultrassom e terapia hormonal. • Cirurgia: remove o tumor cancerígeno, os tecidos próximos e, possivelmente, os gânglios linfáticos próximos. Essa opção é oferecida a pacientes com bom estado de saúde e menos de 70 anos.
• Radioterapia: uso de radiação para matar as células cancerígenas e reduzir os tumores. Pode ser feita de forma externa (a fonte emite radiação do lado de fora) ou interna (materiais radioativos inseridos no corpo).
• Terapia hormonal: usada em pacientes cujo câncer de próstata se espalhou em outro lugar ou é recorrente após o tratamento. O objetivo é diminuir os níveis de andrógenos (hormônios masculinos) e minimizar sua influência no corpo. O principal tipo de andrógeno é a testosterona.
• Quimioterapia: as drogas para matar as células cancerígenas podem ser administradas em comprimidos, por injeções ou tubo. O medicamento entra na corrente sanguínea e percorre o corpo, eliminando não só as células cancerígenas, mas também algumas saudáveis.
• Terapia biológica: é o uso de medicamentos ou substâncias geradas pelo corpo para aumentar ou restaurar as defesas naturais contra o câncer. É também chamada de terapia modificadora da resposta biológica.
• Ultrassom de alta intensidade: uma sonda endorretal faz ultrassom (ondas sonoras de alta energia) e pode destruir as células cancerígenas.
• Técnicas de robótica: têm sido utilizadas para obter uma redução importante dos efeitos colaterais.
É SOBRE A SAÚDE DOS HOMENS Com foco na prevenção e no diagnóstico precoce do câncer de próstata – e na conscientização sobre os cuidados com a saúde masculina –, o Novembro Azul surgiu na Austrália em 2003 sob o nome de Movember – uma junção entre Mustache (bigode, em inglês) e November (novembro). A ideia inicial era que os homens deixassem o bigode crescer para chamar a atenção para a causa. Este foi o mês escolhido porque o Dia Mundial de Combate ao Câncer de Próstata é 17 de novembro. A campanha ficou mais ampla em relação aos temas defendidos e se espalhou pelo mundo. 70% dos homens brasileiros só vão ao médico por influência da família
FATORES DE RISCO
•Idade: 55 anos ou mais
• Histórico familiar de câncer de próstata, especialmente pai ou irmão
• Histórico familiar de câncer de próstata diagnosticado em tenra idade
• Dietas ricas em gordura
SINTOMAS
• De início, praticamente não dá sintomas (daí a importância do check-up regular)
• Necessidade de urinar com frequência, especialmente à noite
• Dificuldade e/ou dor ao urinar • Fluxo de urina fraco ou interrompido
• Dificuldade de ereção
• Ejaculação dolorosa
• Sangue na urina ou no sêmen
• Dor frequente ou rigidez na parte inferior das costas, quadris ou coxas
EXAMES IMPORTANTES
• Check-up regular: com ou sem sintoma
• Retal: o médico, usando uma luva, insere um dedo no reto
• Urina: detecta sangue ou infecção
• Sangue: mede o antígeno específico da próstata (PSA) e a fosfatase ácida prostática (FAP)
• Ultrassonografia transretal: ondas sonoras e sonda para detectar tumores
• Radiografias dos órgãos do trato urinário
• Exame de uretra e bexiga que usa cânula fina e iluminada
• Biópsia: remoção de uma amostra para detectar células cancerígenas
Com reportagem de Ítalo Lo Re, especial para o Estadão. Fontes: Carlo Passerotti coordenador do Centro Especializado em Urologia do Hospital Alemão Oswaldo Cruz, e Stênio Zequi, líder do Centro de Referência em Tumores Urológicos e dos Programas de Cirurgia Robótica do A. C. Camargo Cancer Center