Estamos na “era geológica do plástico”. Entenda por que isso é tão perigoso e o que podemos fazer para ajudar a combater o problema, que precisa ser atacado na produção e no consumo; no reaproveitamento e no gerenciamento de resíduo (40% do plástico produzido hoje é descartável, a exemplo de copinhos, canudos, embalagens e sacolas).
Você deve ter ouvido falar da baleia-piloto que morreu no dia 3 de junho, na Tailândia. Ela tinha 80 sacos plásticos entalados em seu estômago. O jovem cetáceo, não muito maior do que um golfinho comum, foi
mais uma vítima daquilo que muitos especialistas consideram ser um dos maiores desafios de desenvolvimento sustentável do século 21: a poluição plástica.
O problema é global
- Cerca de 75% das 8,3 bilhões de toneladas de plástico produzidas pelo ser humano desde a invenção
do plástico já viraram lixo - só 20% desses resíduos foram incinerados ou reciclados de algum modo, segundo um estudo publicado
em 2017 - outros 80% (cerca de 5 bilhões de toneladas) estão espalhados por aí, contaminando o solo, os rios, os oceanos, a atmosfera e até a água mineral que compramos no supermercado – ironicamente, embalada em garrafas plásticas que, um dia, seguirão o mesmo caminho
Estamos acumulando plástico no planeta de tal forma que essa ficará conhecida como a era geológica do plástico
Fernanda Daltro, gerente de campanhas da ONU Meio Ambiente no Brasil
GESTOS IMPORTANTES NO DIA A DIA
• EVITE USAR COPOS DESCARTÁVEIS PARA CAFÉ E ÁGUA: é o mais fácil. Basta manter uma caneca ou garrafa
na mesa do escritório ou dentro da bolsa.
• EVITE O CANUDINHO: beba direto do copo. Mas, se precisar mesmo de canudinho, procure usar um de papel (que, apesar de descartável, dissolve mais facilmente no ambiente) ou ter o próprio canudo reutilizável, como de bambu ou metal. Há opções à venda na internet.
• COMIDA: que tal levar os próprios potes para comprar frios e produtos a granel? Além de evitar as embalagens plásticas e de isopor, facilita na hora de guardar.
O impacto é enorme
- Derivado do petróleo, o plástico nunca se degrada por completo na natureza. O material apenas
se quebra em pedaços cada vez menores - O processo de decomposição pode levar centenas de anos
- Plásticos biodegradáveis não “desaparecem”; apenas se quebram mais rapidamente
- O ambiente mais afetado são os oceanos
- Cientistas estimam que há mais de 5 trilhões de pedaços de plástico flutuando nos mares, e outras 8 milhões de toneladas do material são despejadas no oceano todos os anos, na forma de garrafas, embalagens e outros resíduos plásticos carregados pelos rios e pela chuva
Uma grande parte dos pedaços de plástico vai parar em alto-mar e circula durante anos, até encalhar em alguma praia ou se juntar a uma das seis gigantescas “manchas de lixo” que existem nas regiões centrais dos Oceanos Pacífico Atlântico e Índico.
- As vítimas mais óbvias são milhares de tartarugas, baleias, golfinhos, aves e outros animais marinhos que morrem pela ingestão de plástico ou presas em redes de pesca descartadas – as chamadas “redes fantasmas”, que também são feitas de plástico e levam centenas de anos para se decompor
A parte mais problemática do lixo plástico é invisível a olho nu: são partículas microscópicas, conhecidas como microplásticos. Elas se misturam ao plâncton e contaminam a cadeia alimentar marinha, podendo chegar ao homem, com efeitos ainda desconhecidos sobre a saúde humana. Estão misturadas à água e à areia de todas as praias do mundo.
As pesquisas sobre o tema no Brasil são pontuais, mas uma coisa é certa: em qualquer lugar que você procurar, você vai encontrar. O microplástico está em todo lugar
Monica Costa, pesquisadora de poluição marinha na Universidade Federal de Pernambuco
Soluções
- O primeiro passo é eliminar os excessos, substituindo o que pode ser substituído e deixando de consumir aquilo que é desnecessário
- A União Europeia está discutindo neste momento uma série de medidas legais de combate ao lixo plástico, entre elas o banimento de produtos descartáveis para os quais há uma alternativa viável, como canudose cotonetes
O problema do lixo no mar é extremamente complexo. A mudança nos padrões de consumo é uma ação necessária de longo prazo, mas que não resolve a crise imediata, relacionada principalmente à má gestão dos resíduos sólidos
Alexander Turra, pesquisador do Instituto Oceanográfico da Universidade de São Paulo
- No Brasil, o governo federal aderiu à campanha Mares Limpos, da ONU, e assumiu um compromisso
voluntário de redução da poluição marinha - No começo de junho, o Ministério do Meio Ambiente apresentou a portaria que cria uma comissão
multissetorial para coordenar a elaboração do primeiro Plano Nacional de Combate ao Lixo no Mar – do qual até 90% é plástico
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