No dia 16 de dezembro de 2021, a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) autorizou a vacinação de crianças de 5 a 11 anos de idade. O primeiro lote das vacinas pediátricas da farmacêutica Pfizer chegou ao Brasil quase um mês depois, na madrugada de 13 de janeiro de 2022.
Davi Seremramiwe, indígena da etnia Xavante, foi a primeira criança a receber a vacina contra covid-19 no País. Ele tem 8 anos.
O calendário de vacinação segue a ordem decrescente de idade e o intervalo estabelecido entre a primeira e a segunda dose é de 28 dias (Coronavac, pela orientação do Instituto Butantan) a 56 dias ou oito semanas (Pfizer). Crianças indígenas e quilombolas, com deficiência e com comorbidades têm prioridade para receber o imunizante
O Expresso na Perifa conversou com mães de diferentes estados para saber como receberam essas notícias e sobre a expectativa de vacinar seus filhos. A alegria se mistura ao medo — no estágio atual da pandemia, há um aumento de casos pela variante Ômicron. O luto por familiares perdidos também está presente.
79% dos brasileiros apoiam a vacinação em crianças 83% das mulheres concordam com a imunização 58% dos brasileiros consideram que atual presidente da República atrapalha o processo O chefe do Executivo já se declarou contra o tema A Anvisa atesta a segurança da vacina da Pfizer para crianças de 5 a 11 anos A Anvisa atesta a segurança da vacina Coronavac para quem tem de 6 a 17 anos Fontes: Datafolha e Estadão
No Rio Grande do Sul, Marlise sofre pelos parentes que se foram e aguarda a vacinação da filha
Marlise Padilha e seus filhos, Hertore, de 15 anos, e Helena, de 11, vivem em um apartamento no bairro Restinga, em Porto Alegre (RS). Ela fala com indignação da morte de familiares por covid-19, entre eles um tio que era caminhoneiro e que “para nós, é como se fosse o Hulk, era o tio mais forte”.
O luto e o medo diante do avanço doença na variante ômicron, aumentam a ansiedade pela vacinação de Helena. Marlise acredita que isso pode trazer um pouco de tranquilidade à família. Ela e o filho mais velho já tomaram as duas doses do imunizante.
Apesar disso, mãe e filha carregam dúvidas sobre a origem da vacina e se há efeitos a longo prazo. “Ela [Helena] está com receio de tomar a vacina, porque a gente acaba vendo muita coisa na TV, Facebook, essas mídias acabam trazendo tantas dúvidas que a gente acaba sem saber o que fazer”, diz.
VACINA SIM Vacina contra covid-19 em crianças é segura e vai reduzir casos graves, diz especialista Anvisa aprova uso da Coronavac em crianças e adolescentes de 6 a 17 anos Ministério da Saúde anuncia intervalo de oito semanas (Pfizer) entre as doses para vacinação de crianças
No Ceará, Cícera quer vacinar o filho, mas tem receio de reação
No primeiro ano de pandemia, Cícera Gomes não saía de casa nem para ir ao supermercado. Fazia as compras por WhatsApp. No segundo, ela e a família voltaram a fazer algumas atividades, dentro do possível. “Mas ainda muito receosa, meu filho frequenta a escola”, diz a mãe. “Qualquer gripezinha a gente já fica com medo.” Cícera e o filho Attila Lucas, de 3 anos, moram em Jucás (CE).
Ainda não está liberada a vacinação para a faixa etária de Attila, e ela espera que esse momento chegue logo. “Acredito muito na questão da vacinação”, afirma. Apesar disso, ficou receosa depois de ver um vídeo da vereadora de Fortaleza Priscila Costa (PSC) dizendo que a vacina pode causar miocardite — inflamação nas células do músculo do coração — e que a responsabilidade seria exclusivamente dos pais.
Projeto Comprova: proteção oferecida pela vacina supera o risco de miocardite em crianças, ao contrário do que afirma site
No Rio de Janeiro, Maíra organizou manifestação pela vacinação infantil
Maíra Arêas e os filhos Gabriel e Carlos Eduardo tiveram covid-19 no ano passado. Os meninos têm 11 e 9 anos. “É um desespero”, diz Maíra. “Como mãe solo de duas crianças eu não tinha como ir numa emergência sozinha, porque não tinha com quem deixá-los. No início de uma pandemia, com medo de perder os nossos pais. Agora, nossos filhos.”
Em dezembro de 2021, quando ainda não tinha previsão para o início de vacinação em crianças, Maíra e outras mães de alunos de uma escola pública do Rio de Janeiro criaram o Movimento pela Vacina para Crianças (Movac). Depois de falar com famílias, professores, entidades e sindicatos, ocorreu no dia 5 de janeiro uma manifestação em defesa da vacinação de crianças. Nesse mesmo dia, quando os manifestantes já estavam se dispersando, veio a notícia de que a imunização na cidade começaria no dia 17 de janeiro.
Maíra conta que por causa das mortes na família o que ela e os filhos mais desejavam era receber as doses do imunizante. “Quando eu contei, ficaram extremamente eufóricos. O mais novo falou uma frase muito engraçada: ‘mãe, agora eu já posso virar jacaré, porque agora eu posso comer o Bolsonaro’”.
Em São Paulo, Maria Luiza vai se vacinar fantasiada de Mulher-Maravilha
Na zona leste da cidade de São Paulo (SP), Andreia Lima recebeu com entusiasmo e alegria a liberação de vacinação para crianças. Ela é mãe da Maria Luiza, de 5 anos, e da Maria Cecília, que tem um mês de vida.
Maria Luiza acompanhou a mãe quando ela se vacinou e já sabe que roupa vai usar na sua vez: a fantasia da Mulher-Maravilha. “Aqui em casa conversamos muito sobre a vacinação desde sempre, ela presta bastante atenção nas reportagens da TV sobre a vacina em crianças”, diz Andreia. O surto de gripe H3N2 em meio à pandemia de covid-19 preocupa ainda mais por causa da recém-nascida. “Tenho uma bebê de 50 dias em casa que não tem nenhuma vacina e nem pode tomar a da gripe ainda.”
Em Minas Gerais, Poliana protege Sophia e João — ele é autista e faz 5 anos em fevereiro
O filho de Poliana Martins, João, completa 5 anos em fevereiro e sonha com o dia de sua vacinação. Sua irmã Sophia, de 12 anos, está vacinada.
Viver os anos pandêmicos tem sido extremamente desafiador para a família, afirma Poliana. João é autista, tem asma e dificuldade para usar a máscara. Sempre coloca coisas na boca e já teve episódios de síndrome respiratória aguda grave (SRAG). “Na primeira semana de pandemia, estava no oxigênio, com gripe. Veio a covid e a gente teve que se isolar completamente.”
Até agora, o menino não pôde voltar para as aulas presenciais. Ele está com saudades dos amigos e louco para ser vacinado pra ir pra praia de novo. “É a paixão dele”, afirma Poliana.
VACINA SIM 75,96% da população brasileira já tomou ao menos uma dose de vacina contra a covid-19 2,22% das crianças entre 5 e 11 anos estão vacinadas com a primeira dose Dos mais de 163 milhões de vacinados no País, 148,4 milhões receberam a segunda dose ou um imunizante de aplicação única Mais de 40 milhões de brasileiros já receberam a dose de reforço Fonte: dados reunidos pelo consórcio de veículos de imprensa, que inclui o Estadão
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ótimo artigo, parabéns