Em entrevista, educadora parental explica que adolescência não é virose, “não tem de esperar passar”. E dá dicas para as famílias
A jornalista Rita Lisauskas conversou com a psicopedagoga e educadora parental Claudia Alaminos, que se autointitula uma ‘ativista pela adolescência’. Confira o trecho da entrevista em que Cláudia de uma espécie de luto que pais e filho atravessam quando os menores se despedem da infância.
Se existe uma fase da vida dos nossos filhos que é pouco compreendida é a adolescência. Quando eles são pequenos dependem da gente para tudo, nos amam incondicionalmente e seguem estritamente as ‘regras da casa’. Mas quando entram na adolescência, a impressão é que tudo desanda. Aquela criança fofa, obediente e carinhosa se transforma, de repente, em um jovem questionador, mal-humorado, que parece que gosta de todo mundo, menos dos próprios pais. “Tem gente que chega chorando (ao consultório) falando ‘ele não me ama mais’”, conta a psicopedagoga e educadora parental Claudia Alaminos, que se autointitula uma ‘ativista pela adolescência’. “Se você teve um filho a adolescência vai chegar e o importante é conhecê-la, tentar entender ‘isso não é só na minha casa, isso não é pessoal, não é o meu filho que está contra mim’’.” Ela conversou com o blog sobre o assunto e defendeu que a adolescência precisa ser bem vivida e que para isso seja possível os pais têm de entender essa fase como normal, saudável e bem-vinda (Rita Lisauskas)
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Rita Lisauskas: Eu achei muito interessante um post que você fez no seu Instagram contando sobre o luto que as crianças enfrentam ao sair da infância e entrar na adolescência. Não é só difícil para nós, é também para eles?
Claudia: Eu diria que é mais difícil pra eles do que pra nós. A adolescência é uma fase evolutiva da vida do ser humano, a gente não escapa dela, mas é meio considerada um ‘patinho feio’, porque temos a criança que é toda fofinha, o adulto que é todo independente, bem resolvido, mas o adolescente é visto socialmente como o ‘chato’, o ‘rebelde’, falam dos adolescentes como se eles fossem quase todos delinquentes.
Essa uma fase evolutiva difícil por causa das modificações, da pressão social e do modo que a gente passa a se relacionar com eles.
Eu sempre falo que a adolescência não é virose, que a gente não ‘tem que esperar passar’. A adolescência é pra ser vivida. É na adolescência que a gente aprende a decidir, aprende do que gosta, descobre quem é, e é isso que a gente vai levar pra vida adulta. Sem uma adolescência bem vivida, a vida adulta fica muito mais complicada.
A adolescência traz consigo a vivência de três lutos. Essa constatação é dos psicanalistas Arminda Aberastury e Maurício Knobel. Os três lutos são:
- A perda do corpo infantil — Eles deixam de ser crianças, o corpo muda radicalmente sem nenhum controle e eles não sabem como lidar com esse corpo, muitas vezes têm vergonha do corpo, aliás, uma das primeiras manifestações da vivência desse luto é vergonha, a criança que saia do banho e andava pelada pela casa passa a fechar a porta do banheiro, então a gente vê que essa vergonha é um primeiro indício.
- A perda da identidade infantil — Aquela história de eu sou criança, criança brinca, criança corre, criança pode um monte de coisa e aí eles se despem dessa infância e não sabem muito bem o que é ser adolescente, então eles têm que viver esse luto e muitas vezes isso vem de uma forma radical. Outro dia eu recebi uma mãe que falava pra mim, ‘a minha filha não quer mais usar vestido rosa, eu comprei um a semana passada e essa semana ela não quer mais. Ela amava rosa’. O que remete à infância é meio assustador, porque eu não pertenço mais a ela. Então é o brinquedo que eles não gostam mais, às vezes eles querem mudar a decoração do quarto, ‘tira todos esses brinquedos, pode dar todos esses brinquedos’.
- A perda dos pais da infância — Este eu acho que é o que mais interessa aqui pra nós, pra nossa conversa. É muito comum, porque a criança acha que os pais são infalíveis, são 100% provedores, eles penetram em todas as faces da vida da criança, escolhem desde a comida que vai no prato, a escola que estuda, a roupa que usa, tudo, todos os problemas são resolvidos pelos pais e eles têm uma visão que os adultos são incríveis, são super poderosos, os adultos são heróis. Com a chegada da adolescência, eles começam a perceber que os pais não são tão heróis assim, os pais são tão humanos quanto eles, erram, têm fraquezas, têm vulnerabilidades. E aí isso pode gerar até uma revolta que é manifestada como um grande prazer em apontar os defeitos dos pais, o que é muito usual. ‘Ah, você fala isso, mas você faz aquilo’, ‘olha aí você, você fala pra eu não mentir, mas tá dizendo pra fulana que você não tá em casa e não pode atender o telefone’. Eles cobram e estão sempre com o dedo apontado porque precisam confrontar as próprias crenças com relação aos pais, precisam dar cabo dessas crenças.
Essa situação de ‘perda dos pais’ é positiva por duas questões: a primeira é essa desmistificação do adulto, porque você imagina o que seria para um adolescente pensar ‘bom, quando eu terminar essa fase aqui eu vou ter que ser um adulto perfeito, que tudo sabe’. Então esse processo humaniza a fala adulta, diz algo como ‘bom, eu vou crescer, vou ganhar algumas responsabilidades, vou ganhar autonomia, mas eu vou continuar escorregando’. E isso é ser humano, eu acho que isso mostra a eles a humanidade dos adultos. E depois que isso acaba, depois dessa revolta, há uma reaproximação de pais e filhos. A gente sabe que todo mundo erra, a vida é essa, a gente não é tão perfeitinho assim. E o luto pelos pais da infância é absolutamente necessário pra que um adolescente se constitua como adulto no futuro (Claudia Alaminos).
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