Akin Abaz tem 27 anos e se apresenta como empresário formado em Eletrônica, Automação Industrial e Ciências da Computação com registro no Conselho Regional de Engenharia e Agronomia (Crea-SP). Mas quem conhece ou já ouviu falar da InfoPreta, assistência de tecnologia focada em diversidade e inovação onde Akin é CEO, sabe que há muito mais a dizer.
Engajada na valorização da diversidade étnica, racial e de gênero, a empresa oferece manutenção de computadores de todas as marcas e atua em projetos sociais de impacto. Ela se distingue de outras prestadoras de serviço do ramo, porque coloca o foco na inserção de pessoas negras, LGBTQIAP+ e mulheres no mercado de tecnologia. “Se analisar quem trabalha lá [na InfoPreta], ninguém é padrão”, afirma Akin.
Considerada em 2021 uma das 50 startups que mudam o Brasil, a empresa nasceu em 2013 e tem a meta de crescer de maneira sustentável a partir da democratização do acesso à tecnologia.
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Ações sociais — Criada na cidade de Osasco, na Grande São Paulo, a InfoPreta atualmente ocupa um prédio comercial na zona oeste da capital paulista e adota programas como o Notes Solidários da Preta. “Recolhemos em empresas e recebemos de pessoas equipamentos que não usam mais e outros utilitários”, explica Akin. “Consertamos, reciclamos e doamos para estudantes universitários para diminuir o êxodo nas faculdades.”
Há máquinas que são entregues a alunos de escolas públicas e a InfoPreta ainda apoia a criação de laboratórios de tecnologia e de audiovisual nas comunidades — em parceria com iniciativas como Metareciclagem e Jovens Hackers, responsáveis por ações de inclusão digital.
A companhia oferece também oportunidades de formação em manutenção de equipamentos de informática a pessoas negras. “Sem esses projetos sociais, a InfoPreta é apenas uma empresa como qualquer outra. Não adianta ensinar sobre tecnologia sem considerar a realidade de quem está na comunidade”, explica Abaz.
A ideia é “jogar o jogo do mercado”, gerar lucro e crescimento e promover o empoderamento de jovens com uma história muito semelhante à de Abaz, morador da periferia de São Paulo e que saiu da escola com poucos conhecimentos sobre tecnologia. Esse posicionamento é uma forma de ajudar a mudar um cenário de desigualdade: 60% dos negros gostariam, mas não conseguem trabalhar na área de tecnologia. A maioria (29%) não enxerga oportunidades e isso pode ser confirmado com a avaliação dos cargos de direção. Entre todos os entrevistados, 29% das pessoas negras que trabalham com tecnologia têm postos de gerência ou direção. Entre os brancos, a faixa é de 46%. Os dados são da Jornada Potências Negras e Shopper Experience em agosto de 2021.
TRANSFORMAR O MUNDO, RECONHECER A SI MESMO Acostumado a montar e desmontar máquinas, Akin Abaz aplicou a ideia de remodelar equipamentos à própria vida. Homem trans, em 2019 ele deu continuidade a um processo de transição com uma cirurgia de mastectomia que deixou marcas, mas lhe permitiu ser quem realmente enxergava no espelho. Para Akin Abaz, atuar como consultor de tecnologia com foco na diversidade é uma forma de abrir portas que não encontrou e de modificar um mercado ainda altamente excludente. “Minha história é cheia de lutas e percalços por ser uma pessoa preta, por ser uma pessoa trans. Mas eu sempre persisto em tudo que faço e acredito que a tecnologia sem diversidade é algo que se limita à sua própria bolha.
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