A arte sempre esteve presente na vida de Johny Alexandre Gomes, de 20 anos. Desde criança ele gostava de desenhar, mas trabalhar com isso era algo distante da sua realidade. Morador do Morro do Chapadão, um dos complexos de favelas mais violentos do Rio de Janeiro, Jota, como é conhecido, foi ajudante de pedreiro para ajudar no sustento da família. “Onde a gente mora não existem referências e eu nem cogitava ir por esse caminho incerto”, diz Jota. “Só queria trabalhar para ajudar em casa. Um amigo me incentivava muito e me falava para investir nas pinturas que um dia ficaria famoso. Eu nunca dei muita atenção e dizia que isso não era para mim.”
No início, quando não tinha dinheiro, Jota usava pedaços de madeira compensada no lugar das telas que não podia comprar. Em 2020, já durante a pandemia, o artista passou a expor em sua conta no Instagram imagens de suas pinturas que descortinam uma realidade muito pouco conhecida do público das artes plásticas. Os trabalhos são feitos entre cultos evangélicos, preces com Marilena, sua mãe, e as diversões junto ao irmão cinco anos mais velho, Jonathan.
A virada aconteceu quando foi descoberto pela MT Projetos de Arte, uma plataforma de apoio a artistas novos e a veteranos pouco lembrados. A fundadora da iniciativa, Margareth Telles, viu as obras na internet e apresentou Jota para uma rede de especialistas que reconheceram seu talento.
Encantado, um colecionador entrou em contato interessado em comprar, de uma única vez, todas as pinturas do artista. “Fiquei incrédulo, não acreditei. Minha mãe também ficou muito feliz”, afirma Jota, que agora consegue dar os primeiros passos para se dedicar exclusivamente às pinturas. Todos os 27 quadros de Jota já foram vendidos e há uma lista de espera. “Minha arte significa tudo na minha vida. Antes eu não conseguia frequentar a praia direito, comprar roupa, ajudar minha mãe. Hoje em dia eu posso fazer isso”, compartilha.
A gente precisa encher a comunidade de arte. Quero mostrar para as pessoas que existem outros caminhos
Para Jota, a arte é uma das diversas maneiras de tocar as pessoas e um dos desejos dele é desenvolver projetos para incentivar outros artistas do Morro do Chapadão, a exemplo de oficinas artísticas. “A gente precisa encher a comunidade de arte. Quero mostrar para as pessoas que existem outros caminhos.”
O repertório de Jota também é alimentado pela complexa realidade carioca marcada pela pobreza e o racismo revelado nas abordagens policiais. Segundo o artista, o tom crítico das obras o levou a ter duas contas bloqueadas no Instagram. “É importante denunciar essas práticas de violência contra o povo nas comunidades, mas até na arte a gente acaba censurado”, avalia. Na tentativa de divulgar seus trabalhos, hoje Jota mantém ativa uma terceira conta na rede social (@explicito___).
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