O audiovisual indígena tem o papel de documentar culturas e realidades dos povos, colocando-os como protagonistas das próprias histórias. A afirmação é do cineasta Takumã Kuikuro, em entrevista ao Expresso na Perifa.
“O audiovisual também tem o papel de denunciar tudo o que está ocorrendo em terras indígenas, pois é através dele que nós levamos a mensagem das lideranças para o restante do Brasil e para o exterior”, diz Takumã. “É muito importante que a gente continue com as produções nas aldeias e conte a realidade sob o olhar indígena, não mais pelo olhar do branco.”
Takumã faz parte do povo Kuikuro e atualmente vive na aldeia Ipatse, na Terra Indígena do Xingu, em Mato Grosso. A reserva é considerada a maior do País: são 27 mil quilômetros quadrados e 7 mil indígenas de 16 etnias diferentes.
Reconhecido no Brasil e internacionalmente, em 2017 o cineasta recebeu o prêmio honorário Bolsista da Queen Mary University, de Londres. Ele foi o primeiro jurado indígena do Festival de Brasília do Cinema Brasileiro, em 2019, e teve filmes premiados em Gramado (Rio Grande do Sul) e no Présence Autochtone, da associação Terres em Vues, na cidade de Montréal, no Canadá.
Produção cinematográfica — Ao lado do Coletivo Kuikuro de Cinema, onde é coordenador, Takumã registrou combates a incêndios que devastam cada vez mais os territórios do Xingu e a luta dos povos para enfrentar a pandemia de covid-19 em 2020.
Durante a quarentena de 2020, o Instituto Moreira Sales convidou artistas para criar e Takumã foi um deles. Veja abaixo o minidoc Hiper Doença.
O coletivo, que também realiza oficinas para novos cineastas no Xingu, é responsável pela produção de documentários como O Dia em que a Lua Menstruou (2004), Cheiro de Pequi (2006), Karioka (2013) e London as a Village (2015).
As Hiper Mulheres (2011, trailer acima; disponível na Amazon Prime Vídeo) foi dirigido por Takumã juntamente com Carlos Fausto e Leonardo Sette. “Fala sobre o movimento de mulheres e a passagem de conhecimento de geração para geração no ritual Jamurikumalu, o mais importante do Alto Xingu”, afirma o cineasta.
Respeito — Os povos indígenas vivem e batalham pela própria sobrevivência no Brasil há mais de 500 anos. Já estavam aqui quando o País foi invadido pelos europeus. O último censo do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) contou 896 mil pessoas e mais de 300 etnias.
Apesar disso, Takumã Kuikuro ressalta que a maior parte da população brasileira desconhece as realidades das aldeias. Ele pede respeito. “O governo brasileiro deve respeitar os indígenas. Nós só queremos respeito pelas nossas terras, crenças e culturas. Não queremos mais preconceitos. Não queremos que as nossas terras sejam invadidas e incendiadas”, diz o cineasta.
Em junho de 2021 a Amazônia registrou 2.308 focos de incêndio, maior número para o mês desde 2007. Os dados são do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe). A maior parte das queimadas (66,5%) foi em Mato Grosso, seguido por Pará (18,4%) e Rondônia (5,7%). As terras indígenas da região, que são áreas protegidas, tiveram 110 ocorrências. Um terço dos focos foi registrado no Parque Indígena do Xingu (MT). Saiba mais no Estadão
Para o povo Kuikuro da região do Xingu, o passado fornece pistas de como combater grandes incêndios florestais, como o que destruiu metade de suas terras em 2015. Arqueólogos descobriram evidências de estratégias do Período Quente Medieval, no início do último milênio. Terraplanagem complexa — valas, estradas e diques — podem ter sido usados como aceiros. Hoje eles organizam brigadas para combater e prevenir incêndios florestais com maior eficiência. Embora parcerias tenham se mostrado eficazes, os esforços são ameaçados por cortes nos fundos federais destinados a agências ambientais. Saiba mais no Estadão
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