Práticas criminosas se multiplicaram diante da maior demanda por serviços online e de delivery. Veja como se proteger
Com ilustração de Marcos Müller e reportagem de Ítalo Lo Re
Os relatos são muitos e os métodos, variados. Poucas pessoas podem dizer que não conhecem uma vítima de golpe, ou ao menos quem foi alvo de uma tentativa de crime desse tipo. Com o avanço das tecnologias e a demanda maior por serviços online e de delivery na pandemia, as quadrilhas ampliaram os perfis de vítimas e agem de modo cada vez mais sofisticado.
O golpe do falso sequestro, que data de mais de uma década no País, dá lugar a abordagens mais sutis, que envolvem clonagem de aplicativos de mensagem e simulação de centrais telefônicas de bancos. As crises sanitária e socioeconômica contribuem para a alta de crimes. Há mais principiantes em compras online e no internet banking, por exemplo, o que deixa clientes suscetíveis. Por outro lado, não são poucos os que buscam alternativas de ganho rápido em investimentos — que se revelam fraudulentos — e acabam enganados.
CENTRAL TELEFÔNICA
O golpe da central telefônica, ou golpe do motoboy, consiste em telefonar para a vítima se passando por atendente de banco e informar que ela teve o cartão clonado. O criminoso cria senso de urgência e solicita dados para que o bloqueio do cartão seja feito. Para passar credibilidade, as quadrilhas já têm dados prévios das vítimas, obtidos ilegalmente, e usam até músicas de espera de banco. Após ganharem a confiança das vítimas, os supostos atendentes enviam um motoboy para buscar os cartões bancários com a justificativa de que irão levá-los para averiguação.
Depois de assustar as vítimas com a notícia de que o cartão foi clonado, o falso atendente orienta que o correntista ligue para o número que está no verso do cartão. Quando a vítima desliga e digita o novo número, é redirecionada para a falsa central com quem estava em contato, só que dessa vez fala com outro golpista da quadrilha. Assim, a quadrilha avança na aplicação do golpe.
- não passe dados de conta
- para evitar o redirecionamento de chamadas, esperar um tempo maior para fazer ligações — mais de cinco minutos — ou use outro aparelho
- evite disponibilizar dados em excesso em anúncios na internet ou em plataformas desconhecidas. Esse tipo de informação pode ser usado na abordagem inicial das quadrilhas
- Nas compras que já foram pagas no aplicativo, nada deve ser pago durante a entrega. Se for o caso, recuse o produto
- Evite comprar para pagar na entrega
- Se não tiver jeito,
CARTÃO TROCADO
O golpe do cartão trocado é relatado principalmente por vítimas que fazem compras na rua e à noite, quando a visualização das transações é prejudicada. A dinâmica é simples: logo depois de o comprador fazer pagamento por meio de uma máquina, o atendente devolve outro cartão ao cliente. Do mesmo banco, para não gerar desconfiança, mas de outra pessoa. Normalmente são cartões perdidos. Como nem todos conferem o próprio nome assim que recebem o cartão de volta, o golpe passa despercebido. Enquanto a vítima não se dá conta – provavelmente só vai notar quando tiver de fazer outra compra –, a quadrilha aproveita para fazer transferências e desviar dinheiro, sobretudo de cartões de crédito.
CARTÃO CLONADO
O cartão devolvido pode ser o certo, mas há a possibilidade de ele ter sido clonado. Normalmente, isso é feito por criminosos que usam máquinas próprias para capturar dados das vítimas ou até em casos em que o objeto é filmado. Com informações como número de cartão e código de segurança, pode-se desviar o dinheiro das contas. Publicações que circulam nas redes sociais indicam que, ao fazer entregas, normalmente de comida, criminosos deixam o celular apoiado na moto filmando de forma escondida as informações do cartão, como o código de segurança. Para ganhar tempo para a filmagem, dá-se a desculpa de que a máquina de pagamento está com problema e de demora para estabelecer o sinal.
PERFIL FALSO EM REDES SOCIAIS
O crescimento de golpes de estelionato na pandemia também pode ser atribuído ao aumento da presença das pessoas nas redes sociais. Com isso, quadrilhas aproveitaram para criar perfis falsos de forma a enganar as vítimas de diferentes maneiras. O crime consiste em fazer a pessoa acreditar em uma falsa narrativa para, desse modo, transferir dinheiro de forma voluntária, o que ficou ainda mais facilitado com o Pix. Ao cair no golpe, o recomendado é acionar as instituições responsáveis para o bloqueio do cartão e informar as redes de contato o mais rápido possível – evitando que o crime cause ainda mais prejuízos. Também é importante registrar boletim de ocorrência.
CONTA FALSA NO WHATSAPP
O perfil falso no WhatsApp consiste em, basicamente, criar uma conta no aplicativo por meio de um número pré-pago (que não requer muitas informações), inserir uma foto de perfil de uma pessoa e se dirigir a seus amigos e familiares dizendo que trocou de número. Se a vítima acredita, logo em seguida o criminoso pede transferência urgente, normalmente sob a justificativa de que foi assaltado. No caso do perfil falso no WhatsApp, uma dica é notar aspectos como a forma que o interlocutor escreve, solicitar ligação por voz para ver qual será a reação e, se uma transação bancária for solicitada, estender o assunto. Desse modo, pode-se inclusive ganhar tempo para acionar outras pessoas e tentar falar com a vítima da conta falsa por meio do número original.
CONTA FALSA NO WHATSAPP
Uma variação mais rebuscada do perfil falso é a clonagem de WhatsApp. Os criminosos invadem a conta original da pessoa-alvo e conversam com seus contatos, passando ainda mais credibilidade. As invasões são possibilitadas principalmente por vítimas que são convencidas a clicar em links suspeitos ou fornecer informações sensíveis, permitindo que quadrilhas dupliquem a conta de WhatsApp. A prática é conhecida como phishing.
LEILÃO FICTÍCIO
O leilão fictício é um golpe aplicado por meio da criação de um site falso, normalmente associado a órgãos como Tribunal de Justiça, Polícia Federal ou Detran, para oferecer produtos a um preço bem abaixo do mercado. Ludibriada com a oferta, a vítima acha que está fazendo um negócio de alta lucratividade, mas acaba caindo em um golpe.
EMPRÉSTIMO CONSIGNADO
O golpe do empréstimo consignado consiste em oferecer falsa portabilidade a pessoas que já têm empréstimos do tipo. Vende-se uma narrativa de que as parcelas e o valores serão reduzidos, pedindo dados das vítimas para o procedimento. Quando a pessoa passa esses dados, no entanto, as quadrilhas fazem, na verdade, um novo empréstimo e ficam com o dinheiro.
INVESTIMENTO COM ALTA RENTABILIDADE
Difundido em todo País, os golpes de investimento com alta rentabilidade normalmente têm funcionamento análogo ao de pirâmides financeiras. Os criminosos, em geral, disponibilizam uma oferta bem acima do valor praticado no mercado e buscam gerar credibilidade em regiões específicas, de forma que passam a ser recomendados por mais e mais pessoas. Quando escalam o lucro com o golpe, somem do mapa.
É sempre mais seguro optar por instituições verificadas não só nas redes sociais, mas reconhecidas por órgãos oficiais. Se algo foge do padrão e, ao mesmo tempo, vem de um benfeitor sobre o qual se conhece pouco a respeito, a recomendação é evitar.