Número se refere ao público-alvo de até 5 anos; Campanha Nacional de Vacinação termina no dia 9 de setembro
Com reportagem de Caio Possati, O Estado de S. Paulo
A menos de duas semanas do fim da campanha nacional contra a poliomielite, mais de 11,1 milhões de crianças ainda não receberam a vacina contra a doença. Conforme o Ministério da Saúde, já houve cerca de 3,174 milhões de aplicações até segunda-feira, 29 de agosto — isso corresponde a apenas 22,1% do público-alvo. Médicos alertam para os riscos de volta da paralisia infantil diante do registro de novos casos no exterior, incluindo países como Estados Unidos e Israel.
Lançada pelo governo federal em 8 de agosto, a mobilização vai até 9 de setembro e pretende atingir cobertura igual ou maior que 95% do público. Cerca de 14,3 milhões de crianças devem ser vacinadas, segundo informe técnico da campanha feito pelo ministério. No Estado de São Paulo, a cobertura contra pólio segue a tendência nacional (21%), segundo o último balanço do governo paulista, divulgado na sexta-feira, 26 de agosto.
Segundo especialistas, entre os motivos para a baixa procura da vacina da poliomielite estão a pandemia, dificuldades dos pais que trabalham de levar os filhos aos postos de saúde, baixa percepção de risco diante do longo período sem casos da doença e falta de campanhas mais intensas do governo federal. Fake news (informações falsas) sobre insegurança ou ineficácia dos imunizantes também atrapalham.
Junto com a campanha de vacinação contra a pólio, o Ministério da Saúde promove campanha de multivacinação (clique para ver todos os imunizantes disponíveis), que também começou no último dia 8 de agosto e se encerra em 9 de setembro. A mobilização oferta 18 imunizantes que integram o Calendário Nacional de Vacinação para crianças e adolescentes e que são aplicados em postos de saúde municipais.
SOBRE A POLIOMIELITE
- A pólio, ou paralisia infantil, é altamente contagiosa
- Atinge principalmente crianças com menos de 5 anos e que vivem em alta vulnerabilidade social, sobretudo onde não há tratamento de água e esgoto adequado
- O poliovírus (vírus causador da doença) é transmitido de pessoa para pessoa por via fecal-oral ou por água ou alimentos contaminados, e também de forma oral-oral, por meio de gotículas expelidas ao falar, tossir ou espirrar
- O vírus ataca o intestino, mas pode chegar ao sistema nervoso e provocar paralisia irreversível nas pernas e demais membros, e também dos músculos respiratórios, o que pode levar à morte
- A poliomielite não tem cura, apenas prevenção, que é feita com a vacina oferecida pelo Sistema Único de Saúde (SUS)
ESQUEMA VACINAL
- O esquema vacinal contra a poliomielite consiste na administração de três doses iniciais, distribuídas para os bebês aos 2, 4 e 6 meses de vida com a vacina injetável (VIP) e de vírus inativado.
- Depois, como reforço, são administradas duas doses adicionais de vacina oral (VOP): uma quando a crianças está com 15 meses e outra entre 4 e 5 anos
- Há também vacina injetável indicada para pessoas de até 19 anos ou para situações especiais, como indivíduos imunocomprometidos
RISCOS DE RETORNO DA POLIOMIELITE/PÓLIO/PARALISIA INFANTIL A baixa adesão do Brasil à vacinação nos últimos anos fez a Organização Panamericana de Saúde (Opas), braço da Organização Mundial da Saúde (OMS), colocar o Brasil no grupo de países da América Latina que correm o risco de voltar a apresentar casos se a vacinação não voltar a crescer. O último caso registrado de poliomielite no Brasil foi em 1989. A OMS reconheceu, em 1994, que o País conseguiu eliminar o vírus em todo o território nacional. Mesmo sem identificar infecção há mais de 30 anos, especialistas alertam que a vacinação é necessária porque novas infecções têm sido identificadas nos últimos meses. Em julho deste ano, os Estados Unidos detectaram uma contaminação por poliomielite depois de 29 anos. O caso foi identificado no Condado de Rockland, em Nova York, e conforme o Departamento de Saúde do Estado, a infecção pode ter acontecido fora do país. Também em 2022, Moçambique (em maio) e Malauí (em fevereiro) foram outros dois países que registraram pacientes diagnosticados, bem como Israel, que voltou a ter pacientes contaminados pelo poliovírus depois de três décadas. Paquistão e Afeganistão, duas das únicas nações endêmicas no mundo e que não conseguiram eliminar o vírus até hoje, documentaram 15 diagnósticos de pólio este ano, de acordo com a OMS.
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